por Fernando Duarte
Falar sobre a crise no PSL é chover no molhado. Porém é importante destacar que o embate na Câmara dos Deputados teve reflexo na relação do casal Dayane e Alberto Pimentel com a base bolsonarista. Os dois baluartes da defesa do presidente Jair Bolsonaro na Bahia adotaram, finalmente, uma postura mais crítica aos “valores” apresentados em público pelo inquilino do Palácio do Planalto. Isso aconteceu até ontem, quando a deputada federal adotou um tom mais ponderado e menos combativo ao filho do presidente, Eduardo Bolsonaro.
O recuo de Dayane coincidiu com o ressurgimento de Eduardo na condição de líder do PSL na Câmara. Um dos “herdeiros” do trono presidencial venceu a batalha contra Delegado Waldir e ascendeu à liderança do partido, mesmo a contragosto de parte da bancada. Em um primeiro momento, a parlamentar baiana se afastou da lógica da troca de favores e cargos que permitiu Eduardo no posto. Era coerente com a postura dele desde o processo eleitoral. Todavia, na política nada é tão duradouro, principalmente os “valores republicanos”.
Presidente do PSL na Bahia, a deputada cedeu à velha política quando indiciou o próprio marido, Alberto Pimentel, para a Secretaria de Trabalho, Esporte e Lazer de Salvador. Ainda assim, Dayane insistiu que o acordo era pragmático e não envolvia a lógica do toma-lá-dá-cá que tanto permeia as relações políticas no Brasil. Talvez isso justificasse para ela, Alberto e o séquito de bolsonaristas que enxerga problemas quando outros fazem o mesmo, mas não quando esse grupo é beneficiário. Eis que, agora, a fratura acabou exposta por um porta-voz do ídolo do casal: o próprio Eduardo.
Apesar de ter indicado a possibilidade de um rompimento, esse caminho não era viável para a sobrevivência política de Dayane e Alberto. Sem o bolsonarismo, ambos estariam órfãos de uma pauta que garantisse voto nos próximos pleitos. Além disso, ao menor sinal de distanciamento da dupla de Bolsonaro, pseudo-representantes do presidente na Bahia se arvoraram para ocupar o espaço. Gostando ou discordando deles, o casal é a liderança legítima de qualquer movimento pró-Bolsonaro e quem quiser o posto ainda precisa labutar muito para “colar” a imagem. Conservadorismo é apenas uma das pautas desse grupo.
O importante é que Dayane aprendeu rápido como se joga o jogo em Brasília. Com o iminente anúncio de Eduardo na liderança, seguir no confronto direto poderia trazer consequências políticas de médio e longo prazo. E, por mais que Alberto tenha uma postura mais explosiva, a deputada federal sabe que a sobrevivência dela na cena depende muito do alinhamento com o clã Bolsonaro. Brigar com Eduardo é o mesmo que partir para uma batalha contra Jair, Flávio e Carlos, algo que ninguém em sã consciência dentro do bolsonarismo há de desejar.
Diante da viagem do presidente para o Japão, a chance de estancamento da crise é alta. Tanto que os interlocutores, incluindo o próprio Bolsonaro pai, sugerem que já há um processo de cicatrização em curso. Porém nem todas as marcas serão facilmente apagadas. Resta saber como o PSL da Bahia vai se comportar nessa relação de “marido e mulher”.
Este texto integra o comentário desta terça-feira (22) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM e Valença FM.
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