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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Em eleição com poucos recursos, eis que surge uma nova estratégia: a bondade interesseira

por Fernando Duarte / BN
Foto: Reprodução/ Amâncio
Um levantamento feito pela equipe do Bahia Notícias constatou que, em meio a doação de campanha para candidatos, alguns postulantes ao legislativo receberam recursos de partidos diferentes daqueles a que estão filiados. A medida não é ilegal, frise-se. Porém é esdrúxula do ponto de vista ideológico. Eis que aí reside o problema: não existe ideologia quando os interesses eleitorais são postos à prova.

O inusitado veio a público desde a última semana, quando o repórter João Brandão divulgou que a candidata a deputada federal pelo PV Marcelle Moraes recebeu R$ 100 mil da direção nacional do Democratas. Brigada com os verdes desde que perdeu a vice-liderança da legenda na Câmara de Vereadores de Salvador, a sombra do irmão Marcell não estava mais interessada em participar do pleito de 2018.

No entanto, diante do racha do chapão de apoio a Zé Ronaldo (DEM), a verde quase desfiliada acabou na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados, para servir de apoio ao defensor dos animais da Assembleia. Foi nesse contexto que o DEM precisou de uma chapa com “candidatos escada” para tentar viabilizar os mandatos dos caciques, ameaçados pela campanha pouco robusta do postulante na majoritária. Aí mora uma desculpa não pública para que a direção nacional banque uma cifra expressiva para uma candidatura de fora do partido.

O fenômeno da doação para não-filiados, todavia, não se restringe à oposição. O Partido da República, que tem figurões como José Carlos Araújo, José Rocha, João Carlos Bacelar, Reinaldo Braga e Vitor Bonfim tentando a reeleição, foi ainda mais bondoso que o DEM. A direção nacional do partido doou R$ 600 mil para candidatos do Podemos, do PSB e do PMB para a Assembleia Legislativa da Bahia e para a Câmara dos Deputados.

As doações do PR não parecem seguir uma lógica. Aliado do PSDB no plano federal, as doações foram para candidatos que não marcham com Geraldo Alckmin na disputa. O Podemos tem Álvaro Dias na corrida, o PSB se omitiu e apoia de maneira oficiosa a candidatura do PT e o PMB... bem, o PMB é o Partido da Mulher Brasileira, que teve como único representante no Congresso um homem. Porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, o PR abriu o cofre para doar recursos destinados ao partido para outrem sem uma justificativa plausível.

Não é bondade que move as siglas. Se assim o fosse, não haveria 35 legendas registradas no Brasil em busca de um naco do fundo partidário. O interesse é pragmático. Ao ajudar aliados – mesmo que sejam adversários dos próprios pares -, uma legenda consegue angariar apoios que fogem do escopo em que originalmente estaria. São dobradinhas “Frankenstein”, que ajudam a manter a lógica da política.

Por obrigação de afastar o pessimismo, olhemos por um lado positivo. Pelo menos essas doações “incomuns” agora são públicas e transparentes. Ainda assim, enquanto tentamos entender as alianças pouco convencionais, os partidos mantêm a mesma lógica de sempre: usar recursos públicos para os próprios interesses.

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