Elina Berglund, uma das físicas envolvidas na descoberta do Bóson de Higgs, passou os últimos três anos trabalhando em um aplicativo de fertilidade que diz às mulheres quando estão férteis. Apesar de não ser o primeiro do tipo, ele provou ter uma eficácia de 99,5% – algo que o coloca entre as pílulas anticoncepcionais e preservativos, segundo informações da Science Alert.
Por se tratar de um aplicativo, ele não tem quaisquer efeitos secundários, apenas exige que as mulheres digitem sua temperatura diariamente para que um mapeamento da fertilidade ocorra ao longo dos meses.
Em 2012, enquanto trabalhava no CERN, no experimento do Grande Colisor de Partículas, Berglund ajudou a encontrar o famoso Bóson de Higgs. No entanto, ela decidiu que era hora de trabalhar em algo diferente. “Eu queria dar ao meu corpo uma pausa das pílulas”, disse em entrevista à Wired. “Mas, ainda não tínhamos encontrado boas formas naturais de controle de natalidade, então escrevi um algoritmo para mim”. O aplicativo resultante da criação é chamado de Natural Cycles e até agora apresentou resultados promissores.
Usar o ciclo de fertilidade natural para evitar gravidez não é uma ideia exatamente nova. Basicamente, trata-se de uma forma de evitar o sexo desprotegido nos dias férteis – aproximadamente uma janela de nove dias a cada mês.
Apesar de na teoria funcionar muito bem, o método é bastante incerto, tendo em vista a irregularidades dos ciclos, que coloca as taxas de sucesso entre 75%. Porém, o algoritmo de Berglund é diferente. Ela utilizou os mesmos métodos estatísticos avançados que usou no CERN e, ao invés de se basear no ciclo, utiliza a temperatura diária da mulher como ponto de partida.
Como o Natural Cycles funciona?
Junto à ovulação ocorre o aumento de progesterona, o que também aumenta a temperatura corporal em até 0,45 graus Celsius. Ao inserir diariamente a temperatura, o aplicativo compara os resultados de um conjunto de dados mais amplos, permitindo que a mulher saiba quando pode ter relações desprotegidas (sinalizadas por marcações em verdes nos dias) e quando utilizar métodos contraceptivos (marcados por dias vermelhos).
Até o momento foram feitos dois ensaios de testes, sendo que o segundo analisou dados de mais de 4.000 mulheres com idades entre 20 e 35 que utilizaram o aplicativo. Ao longo de um ano foram registradas 143 gravidezes não desejadas, 10 das quais foram concebidas entre os dias marcados como seguros (verdes). A constatação deu ao aplicativo uma classificação de confiabilidade de 99,5%, sendo que o resto das gravidezes ocorreram porque as mulheres não usaram o aplicativo corretamente.
Os preservativos possuem cerca de 98% de eficácia, enquanto os dispositivos DIU, 99%, bem como as pílulas, quando tomadas corretamente. Obviamente que o aplicativo não protege contra as doenças sexualmente transmissíveis e por isso não é recomendável para todos. No entanto, para pessoas que têm relações com parceiros confiáveis e regulares, os resultados sugerem uma ótima opção de controle de natalidade. Agora, o objetivo da pesquisadora é que ele seja classificado formalmente como um contraceptivo é não apenas um monitor de fertilidade. “Somos uma alternativa para a pílula sem efeitos colaterais”.
Algumas mulheres, no entanto, não se mostraram convencidas com o método. Cerca de 1.000 desistiram e pararam ao longo do ano observado, o que mostra que ele pode ser difícil de ser mantido. Segundo Kristina Gemzell Danielsson, uma das pesquisadoras disse que o Natural Cycles não é recomendável para mulheres mais jovens ou que estejam muito interessadas em evitar a gravidez, uma vez que existem métodos mais eficazes.
“Pode ser muito assustador, especialmente quando se tem a ver com o corpo e sua saúde. Nós sabemos que estamos lidando com a vida das mulheres aqui e levamos isso muito a sério”, disse Berglund acrescentando que agora os pesquisadores estão trabalhando para melhorar a eficácia do aplicativo. [ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Flickr ]
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