Jornal do Brasil - Na semana passada, foi anunciada, oficialmente, a equipe econômica do governo Michel Temer. O mercado e população aguardam o anúncio de medidas econômicas concretas que devem ser implementadas pelo Ministério da Fazenda. A economia parece ser o principal alvo das atenções em um cenário em que o déficit fiscal pode chegar a 170,5 bilhões, o Produto Interno Bruto pode recuar mais de 3% e o desemprego aumenta em todas as regiões brasileiras.
A solução para essa crise, no entanto, não é consenso entre especialistas. Para o economista Pedro Rossi, as políticas econômicas que visam à austeridade não seriam o melhor caminho. "O discurso do ajuste é malicioso e não vai funcionar. As ideias de austeridade falharam repetidas vezes ao longo da história, no entanto, elas sobrevivem porque não são teses meramente econômicas, são ideológicas", comentou Rossi, que também é professor do Departamento de Política e História Econômica da Unicamp.
Já para Roberto Simonard, professor da Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), o ajuste é necessário para colocar em ordem as contas públicas. "A situação fiscal está complicada. Há um déficit enorme. A situação do setor público está muito grave e, se nada for feito, tende a se agravar. Podem ter efeitos nefastos, como o atraso nos salários dos servidores federais", comentou o economista.
Para Rossi, a equipe econômica anunciada na terça-feira (17) possui um perfil conservador e ligado ao mercado, o que indicaria a escolha por medidas que defendem rigor fiscal. "As políticas que tendem a ser implementadas têm por objetivo a redução do papel do Estado na economia, do predomínio do sistema financeiro. O que está em jogo é a retirada dos direitos sociais postos na Constituição Federal de 1988", afirmou o professor.
Banco Central autônomo?
A ideia do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de propor autonomia do Banco Central também é um tema polêmico. O assunto gera opiniões divergentes entre especialistas.
"Alguns falam que o BC deveria ser independente porque o governo interferiria politicamente na instituição, que deveria se pautar por decisões técnicas. Outros acham que isso daria muito poder ao presidente do banco, que seria uma espécie de presidente oculto e poderia trazer problemas à estrutura política", explicou o professor Simonard, avaliando que essa proposta deve enfrentar resistência no Congresso, ainda que o governo peemedebista tenha aparente maioria.
Para Rossi, a proposta de um BC autônomo é uma agenda do mercado e seria um prejuízo à democracia. "Essa autonomia propõe o distanciamento entre essa instituição e o governo que é eleito democraticamente, que não é nem o caso do atual. O que a gente vê é a redução da participação democrática nas políticas econômicas", ressaltou o professor da Universidade Estadual de Campinas, que também ressaltou a escolha de um nome do mercado (Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco) para a presidência do Banco Central.
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