Com a recessão se aprofundando, o desemprego em alta e a renda em baixa, não havia dúvida de que o brasileiro perderia poder aquisitivo neste ano. Na semana que passou, porém, ficou claro que outro componente pode comprometer ainda mais o fôlego financeiro no país: a insistente alta do dólar.
A moeda americana fechou, na última sexta-feira, cotada a R$ 3,51, uma elevação de 2,72% na semana e de quase 32% no ano, com impacto direto sobre a economia. Na média, a estimativa é que a capacidade de cada brasileiro de criar e de usufruir da riqueza do país vai cair de US$ 11,6 mil, no ano passado, para a casa de US$ 8 mil, de acordo com levantamento da Agência Estado. O efeito do câmbio já vinha corroendo o poder de compra dos brasileiros, dentro e fora das fronteiras. Em janeiro, quem foi a Nova York e comprou o modelo top de linha do iPhone 6 Plus, desbloqueado, pagou pouco menos de R$ 2,3 mil. Para adquirir o mesmo celular na última sexta-feira, um brasileiro em visita aos Estados Unidos pagou praticamente R$ 3 mil, apenas por causa da variação do câmbio neste ano. Aqui no Brasil, no mercado interno, o dólar se entranha sutilmente nos serviços e nos produtos. Nada menos do que 23 de cada 100 produtos vendidos no país são importados (inteiramente ou parte deles). Até 77% do insumo de eletrônicos, como computadores e televisores de LCD, e mais da metade dos insumos de produtos farmacêuticos, como remédios, é importada, e vêm tendo reajustes. Uma maneira de medir ganhos e perdas da população com o câmbio é converter, para dólares, o Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita). A conta é simples. O PIB, que indica a geração de riqueza de um país (criada por pessoas, empresas, governo, pela exportação), é dividido pelo número total de habitantes. Neste ano, é consenso que o PIB do Brasil vai encolher. A população, porém, continua aumentando. Numa analogia, o bolo vai ser menor, mas há mais gente à espera de um pedaço. Assim, quando o PIB cai, o PIB per capita cai mais ainda. A estimativa do PIB per capita de 2015 tende a cair de R$ 27,2 mil para R$ 26,4 mil, de acordo com cálculos do economista Claudio Considera. (Correio)
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