Cristiane Jungblut - O Globo
Para Marina, “o processo político no Brasil vem sofrendo um rebaixamento” Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
BRASÍLIA - Derrotada na eleição presidencial de outubro ainda no primeiro turno, a ex-senadora Marina Silva engrossou o coro das pressões políticas pela demissão da presidente da Petrobras, Graça Foster, e de toda a diretoria da estatal. Em entrevista ao programa Roberto D´Avila, exibido na Globonews na madrugada deste domingo, Marina Silva disse que é preciso demitir "de uma forma urgente" todo o comando da empresa. Para a ex-candidata do PSB, a Petrobras foi tomada por um grupo que "roubou" R$ 30 bilhões. A ex-petista não esconde sua mágoa com o PT, com a presidente Dilma Rouseff e com a campanha eleitoral.
Em quase 30 minutos de entrevista, Marina disse que concordava com as declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a respeito da gravidade do escândalo da Petrobras. Para ela, o procurador "está correto".
— É preciso mudar a diretoria da Petrobras. Essa diretoria foi nomeada, mantida durante todos esses anos e não teve a competência e o compromisso para evitar o que foi feito. Uma empresa que era respeitada no Brasil e mundo inteiro, que estava nas páginas de política econômica, de inovação científica e que agora está nas páginas policiais. É preciso, de uma forma urgente, que seja feita essa mudança em nome do interesse público. A Petrobras hoje está valendo a metade do que valia há quatro anos e está quatro vezes mais endividada com todos esses escândalos, onde mais de R$ 30 bilhões foram roubados por grupos que se "assenhoraram" do patrimônio da sociedade brasileira, do nosso país — disse Marina.
Perguntada se tinha "mágoa" da presidente Dilma, Marina disse que vai sempre respeitar a figura de presidente eleita, mas que prefere ficar na posição de ter sido atacada na campanha e não na posição de quem partiu para o ataque. Firme, Marina disse que não "se verga para a corrupção" e que é preciso dizer sempre a "verdade na política". Ela repetiu que, na política, "não vale tudo".
Para a ex-candidata à Presidência pelo PSB, o que ocorre na Petrobras é um exemplo das distorções na política.
— É essa ideia de política como um serviço e não para se servir. Como está sendo banalizado hoje: você assume a diretoria da Petrobras para se servir da Petrobras e não para servir os brasileiros. E é isso que precisa acabar — disse ela.
Marina disse que pagou "um preço muito alto" ao decidir divulgar um programa de governo. Mas insistiu que é sempre preciso falar a verdade na política.
— Não me vergo para a corrupção, para a política de circunstância. Elas (as autoridades) têm que participar da campanha falando a verdade. E falar a verdade tem um preço. Muita das coisas que defendíamos agora estão sendo feitas.
Mas Marina não quis concordar diretamente com as declarações do presidente nacional do PSDB e candidato derrotado no segundo turno das eleições, senador Aécio Neves (MG), de que enfrentou na campanha uma "organização criminosa", num ataque ao PT. Perguntada se concordava, respondeu:
— Prefiro ter a minha própria opinião. Infelizmente, o processo político no Brasil vem sofrendo um rebaixamento.
Marina repetiu que é contra o que chamou de “marketing selvagem” e que sempre disse aos aliados que preferia "perder ganhando do que ganhar perdendo".
— As pessoas não querem mais discutir ideias, propostas, são apenas estratégias de como se faz para manter o poder ou para ganhar o poder. É usando o marketing, usando estruturas faraônicas de recursos, fazendo negociatas políticas em troca de pedaços do estado, de ministérios por tempo de televisão. Esse processo tem empobrecido a democracia. Saímos destas eleições com o nosso país dividido. Uma boa parte dos eleitores sentiu que houve uma desconstrução. É uma palavra delicada para dizer que foi feito um aniquilamento de adversários. Até brinquei: só se eu fosse exterminadora do futuro para fazer isso. A História haverá de repudiar tudo isso que foi feito.
Em dois momentos da entrevista, Marina não escondeu seu ressentimento para com a presidente Dilma e os ataques que recebeu do PT.
— Vou sempre respeitar a presidente eleita pelo povo brasileiro. É uma decisão da democracia, tomada pela sociedade brasileira. A Presidência da República é muito mais do que uma pessoa, é uma instituição. Prefiro estar no lugar de quem foi atacada, desconstruída injustamente com todo tipo de calúnia, difamação, preconceitos que eu vi sendo utilizados contra o presidente Lula (quando ele concorreu contra o ex-presidente Fernando Collor), que foram usados de forma bem mais cruel contra mim. Mas prefiro sofrer a injustiça do que praticá-la. Não queria estar na pele das pessoas que disseram as coisas que foram ditas a meu respeito. Prefiro estar neste lugar — disse Marina.
Em seguida, ela disse que é contra a ideia de que um presidente precisa ser firme e não pode chorar. E estocou Dilma:
— A presidente Dilma acabou de chorar recentemente em relação ao episódio da Comissão da Verdade, ainda que ela tenha dito, quando eu chorei, que um presidente tem que segurar o choro, a barra — disse Marina.
Sobre o futuro, Marina disse que não tem uma "cadeira cativa" de candidata e voltou a dizer que a criação da REDE foi "boicotada" pelos cartórios, que não reconheceram como válidas s assinaturas coletadas pelo seu grupo. Ela disse que tem um "diálogo com o ativismo autoral".
— Não fico na cadeira cativa de candidata. Em 2010, não fiquei, não vou ficar agora. Vou fazer o que acho que é correto. A política tem uma boa dose de imprevisibilidade. Ninguém imaginava que eu pudesse apoiar o Eduardo Campos, nem eu mesma — disse ela.
Marina chegou a comparar os efeitos provocados pela violência que se expressou nas ruas em 2013 e, segundo ela, a "violência simbólica, política verbal que se expressou na política, em 2014".
— Mas ninguém pode recalcar um vulcão a vida inteira — encerrou.
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