A revista Época acompanhou dois pastores que fazem campanha política. Em uma reportagem intitulada “O jeito evangélico de pedir votos e fazer política”, acabou caindo na generalização. Contudo, revela alguns aspectos conhecidos de algumas denominações do país, em que os candidatos são apresentados nos cultos, pedem oração e distribuem seu material do lado de fora dos templos. Os candidatos acompanhados pela revista foram Rodrigo Delmasso e Ronaldo Fonseca. Rodrigo, 34, é pastor da Sara Nossa Terra e concorre pelo PTN a deputado distrital (equivalente a deputado estadual no DF). Ronaldo, 55, pastor da Assembleia de Deus, concorre à reeleição como deputado federal pelo PROS, também no Distrito Federal. Como é costumeiro, ambos fazem campanha focados nas igrejas evangélicas. Época acompanhou ambos em suas visitas a igrejas e encontros com pastores e líderes. Enquanto a Sara Nossa Terra está ligada a candidatos de oposição ao governo Dilma, a Assembleia de Deus de Fonseca defende os candidatos petistas. O deputado federal Ronaldo Fonseca usa como material de campanha este ano a frase “Estarei obstinado a alcançar os sonhos que Deus escolheu para mim”. Lembra que ajudou a conseguir verbas para construir centros da juventude, criar clínicas da família e cobertura para quadras esportivas em Brasília. Ele é o coordenador dos 23 parlamentares da Assembleia de Deus no Congresso e foi, por dez anos, coordenador político da igreja. Atualmente é membro titular da Comissão de Cidadania e Justiça e suplente na de Direitos Humanos.
Delmasso acredita que “O eleitor não é alienado. Nenhum ser humano admite ser manipulado por outro”. E acrescenta: “Muitos ainda usam o nome de Deus em segmentos que não têm nada a ver… É a pluralidade da democracia. A igreja é uma entidade social que representa um estrato da sociedade. Um bancário se elege para defender seus pares. Um taxista também. Se as categorias têm esse direito, por que a igreja, uma expressão da sociedade, não teria?” O candidato acredita que o eleitor evangélico é “mais difícil” de convencer que os outros. “Quando falo com irmãos da igreja, tenho de convencê-los de que sou diferente. Eles me questionam: ‘Quem garante que você não entrará lá e se corromperá, sujando o nome da igreja?’. São mais difíceis do que qualquer outro público”, explica Delmasso. Um dos motivos para isso foram os diversos escândalos de corrupção envolvendo políticos evangélicos. Em 2006, foi denunciado o “escândalo dos sanguessugas”, que envolvia desvio de dinheiro público destinado à compra de ambulâncias. Na ocasião, um dos envolvidos mais conhecidos era o Bispo Carlos Rodrigues, da Igreja Universal do Reino de Deus. Anos mais tarde ele também esteve envolvido no “mensalão”, chegando a ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ao contrário do que afirma a revista, nem toda igreja defendo o chamado “voto de cajado”, onde os fieis votam sem questionar no(s) candidato(s) apresentados pelos pastores nas igrejas.
O Censo de 2010 comprova que não se pode dizer que o eleitor evangélico típico é iletrado e pobre. Mais de 73% dos evangélicos ganham até três salários mínimos. Entre os católicos, o índice é de 75%. Enquanto 48,5% dos evangélicos não têm estudo ou têm apenas o fundamental incompleto, esse número chega a 51,2% dos católicos. Ainda assim, é inegável que a estratégia de peregrinar pelas igrejas em busca do voto com perfil mais conservador e as plataformas em defesa da família e dos “valores cristãos” dá resultado para pastores que postulam cargos políticos. A cientista política Isabel Veloso, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, escreveu sua tese de mestrado abordando o fato que os evangélicos gastam menos do que qualquer outro candidato para se eleger. “O eleitor, de qualquer segmento, quer escolher em quem votar tendo o menor esforço possível. Quando o líder religioso já é ou indica o candidato, essa escolha é facilitada. Some a isso o fato de que os evangélicos têm um grau altíssimo de frequência nos cultos. Nas igrejas pentecostais, especialmente a partir de duas semanas antes da eleição, a exposição ao tema político com esse tipo de discurso é muito grande”, explica. (Época)
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