Masashi Suzuki, 21 anos, foi abandonado pelos pais quando ainda era um bebê. Aos dois, foi parar numa instituição mantida pelo governo japonês na cidade de Funabashi, província de Chiba, vizinha à capital japonesa.
Esperou por uma chance de ser criado numa casa, cercado de carinho e proteção, porém, a burocrática legislação japonesa cerceou os sonhos do jovem de crescer em uma família.
No Japão, a lei diz que, mesmo que a criança seja retirada dos cuidados dos pais biológicos, eles ainda terão a guarda sobre ela e podem decidir seu futuro.
Além disto, segundo Sayo Saruta, consultora da organização Human Rights Watch (HRW), os chamados centros de orientação infantil (a autoridade administrativa local que determina o destino da criança) ainda preferem colocar as crianças em instituições do que em permitir sua adoção.
No Brasil:
"Milhares de crianças todos os anos precisam de novas famílias, mas o atual sistema coloca grandes obstáculos no caminho delas", disse.
Foi o caso de Masashi. Quando completou 18 anos ele foi obrigado a deixar o abrigo e ficou desnorteado com o novo mundo com o qual se deparou.
"Estava animado, pois pensava que estava deixando finalmente a prisão", contou.
Em menos de dois anos, passou por 20 diferentes empregos e chegou a morar nas ruas.
"A vida não é como um passeio tranquilo. Um dia parece que nunca termina", afirmou.
O jovem japonês é, para Sayo, um exemplo do que acontece com crianças que crescem em instituições e abrigos e não numa família.
A Human Rights Watch divulgou um relatório inédito sobre a situação destas crianças e apontou que o Japão comete uma das piores violações aos direitos humanos ao negar uma vida em família a essas crianças.
"Vínculos consistentes de apego com os pais são importantes para um desenvolvimento normal do cérebro. Nós (japoneses) estamos criando crianças mentalmente atrasadas ao mantê-las em instituições", explicou Sumiko Hennessy, diretora da Crossroad Social Work e professora da Universidade de Bem-Estar de Tóquio.
Aumento de adoções
Em 2011, apenas 430 crianças foram adotadas em todo país. Mas dados do governo japonês mostram que existem cerca de 39 mil crianças vivendo em diferentes tipos de instituições no país.
"O uso exagerado de instituições de abrigo ao menor ao invés de cuidados baseados na família tem feito milhares de crianças japonesas crescerem sem nenhum preparo para a vida independente e produtiva", afirmou Kanae Doi, diretora do escritório japonês da Human Rights Watch.
De acordo com o relatório feito pela organização, o Japão envia para instituições cerca de 90% das crianças que foram retiradas de suas famílias por algum tipo de problema, a maioria por abuso.
"Quando encontram uma família disposta a adotar, muitas vezes os pais biológicos são contra. O sentimento de competição e o orgulho acabam condenando as crianças a viver nas instituições", disse Doi.
Soluções
Para concluir o relatório, a Human Right Watch entrevistou mais de 200 pessoas entre dezembro de 2011 e fevereiro de 2014. Baseado no estudo, encaminhou algumas sugestões para o governo japonês.
"Sugerimos, entre outras coisas, atribuir a um painel independente de especialistas a decisão do que fazer com as crianças caso ela não tenha condições de retornar para o convívio com os pais biológicos. O ideal é que a adoção seja a primeira opção", disse Kanae à BBC Brasil.
Ela sugere ainda uma atenção especial para recém-nascidos e suporte, treinamento e ajuda financeira através de subsídios para pais adotivos.
O governo do Japão estipulou um objetivo de chegar a cerca de um terço o número de crianças que vão para o sistema de adoção ou para casa de famílias nos próximos dez anos.
Atualmente, esse número não chega a 13%. Em países desenvolvidos, a média de adoção ou encaminhamento para casas de famílias é de 70% a 90%.
"O governo precisa revisar esse objetivo e estipular um número mais robusto e investir em um plano de ação diferente do atual, o qual incentiva o aumento do número de crianças em instituições para que estas ganhem cada vez mais subsídios público", sugeriu Kanae. Foto: BBC/Divulgação / Fonte: BBC
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