Fernando Porfírio _247 - O Ministério Público estadual atacou nesta terça-feira (10) a operação do governo paulista na região conhecida como “cracolândia”, no Centro de São Paulo. De acordo com promotores de Justiça, o Estado não pode ser o “algoz do cidadão” nem o “chicote do pobre”. Uma força tarefa formada pelos promotores de Justiça Eduardo Valério, Luciana Bergamo, Arthur Pinto Filho e Maurício Ribeiro Lopes, anunciou que abriu inquérito para apurar responsabilidade pela operação classificada como “ilícita”, “pouco inteligente” e de “resultados pífios”.
A operação na “cracolândia” começou no último dia 3. Uma semana depois, a Polícia Militar informou que prendeu 49 pessoas. Dos presos, 26 eram condenados pela Justiça. A ação retirou até o momento apenas meio quilo de crack de circulação no local. A quantidade representaria o consumo de apenas um dia entre os usuários da cracolândia.
A operação, que conta com policiais e órgãos estaduais e municipais ligados à segurança, saúde e assistência social, também retirou 61,3 toneladas de lixo das ruas. Segundo balanço da PM, 2.806 abordagens policiais foram realizadas. Os agentes de saúde encaminharam 33 pessoas para serviços de saúde, nove para hospitais e 28 para internação.
“O tráfico de drogas é questão de polícia, mas a dependência química é caso de assistência social e de saúde”, afirmou o promotor de justiça Eduardo Valério. “Essa operação é uma tragédia que está servindo apenas para espalhar um problema que estava concentrado numa região específica da cidade”, completou o promotor.
Valério também criticou a justificativa apresentada pelo governo paulista de que a operação na “cracolândia” tinha como objetivo o combate ao tráfico de entorpecentes. “Argumentar dessa forma é menosprezar a capacidade das organizações criminosas de operar o tráfico de drogas na capital paulista. Para minimizar e acabar com o tráfico é preciso operações lícitas e inteligentes”, disse o promotor Eduardo Valério.
De acordo com os promotores de justiça, o Ministério Público foi pego de surpresa com a operação no início do ano. Desde 2009, o MP acompanhava a questão da dependência química na região atuando em conjunto com entidades civis e com a prefeitura. “Não sabemos o que motivou essa operação desastrada e a abertura do inquérito que anunciamos hoje, entre outras coisas, pretende encontrar uma resposta para o caso”, disse o promotor Eduardo Valério.
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