No Brasil, mentir no currículo é algo praticado por cerca de 7 em cada 10 profissionais, de acordo com um levantamento da empresa DNA Outplacement. Políticos e figuras públicas, que não deveriam se surpreender de ter suas vidas vasculhadas, também não hesitam em florear suas experiências pregressas.
Desde a semana passada, as experiências profissionais do novo ministro da Educação do governo Bolsonaro, o professor Carlos Alberto Decotelli, vêm sendo colocadas à prova.
Logo após o anúncio do presidente sobre a sua escolha para substituir Abraham Weintraub, o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário na Argentina foi desmentido pelo reitor da universidade. Sua formação de pós-doutorado pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também não foi confirmada.
A prática atravessa campos políticos. Um exemplo clássico é o da ex-presidente Dilma Rousseff, que colocava no currículo os títulos de mestre e doutora em economia pela Unicamp. Na verdade, ela havia concluído os créditos mas não tinha nenhum dos diplomas por não ter defendido tese. A revelação veio à tona pela Revista Piauí, em 2009.
É comum os novos membros de governos sejam confrontados sobre a veracidade das informações dos seus currículos. Nesta vez, foi a vez dos ministros de Bolsonaro. Desde o início do governo, em 2019, todos os nomes que passaram pelo MEC tiveram inconsistências apontadas em seus currículos.
Carlos Alberto Decotelli
Na semana passada, o reitor da Universidade Nacional de Rosáriona Argentina, Franco Bartolacci, usou sua conta oficial do Twitter para desmentir o título de doutor do novo chefe do MEC na faculdade argentina. A informação estava em seu currículo lattes, que posteriormente foi editado.
Também constava no currículo de Decotelli que ele havia pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. No entanto, a instituição informou à EXAME que ele não esteve na universidade por todo o período que consta em seu currículo e não cumpriu os requisitos necessários para a titulação de pós-doutor.
Há ainda, a denúncia de plágio em pelo menos quatro trechos da dissertação de mestrados e em textos acadêmicos assinados pelo novo chefe do MEC. Todos os trabalhos foram entregues na Fundação Getulio Vargas, que já anunciou uma apuração para verificar se houve cópia.
Abraham Weintraub
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o atual ministro da Educação também traz inconsistências em seu currículo.
Em relação a sua produção, foram encontrados dois artigos idênticos publicados em periódicos diferentes que exigem ineditismo do material – prática conhecida no meio acadêmico como autoplágio.
Ricardo Vélez Rodriguez
Antes de ser demitido do Ministério da Educação, o professor Ricardo Vélez Rodriguez errou 22 vezes em seu currículo Lattes, como apontou o site Nexo.
As inconsistências são repetidas inúmeras vezes, como “esquecer” de acrescentar coautores de seus textos, como por exemplo ter citado como de sua autoria única o livro “Formação e Perspectivas da Social-democracia”.
O título, no entanto, foi organizado pelo diplomata Carlos Henrique Cardim, docente do Instituto Rio Branco. O ministro decidiu na ocasião não se pronunciar sobre as revelações.
Damares Alves
Em janeiro de 2019, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, não era “mestre em educação” e “em direito constitucional e direito da família”, como afirmava em seus discursos.
Na ocasião, ela afirmou que seu título tem a ver com o ensino bíblico. “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico”.
Ricardo Salles
Em fevereiro do ano passado,
foi a vez do site Intercept Brasil revelar que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não é mestre em direito público pela Universidade Yale, título atribuído a ele há anos em seus artigos.
O veículo entrou em contato com a instituição, que negou a existência de registro de frequência do ministro. Após a reportagem, Salles disse em seu Twitter que “a informação de 2012 foi veiculada erroneamente por um equívoco da assessoria”. *Extra