Foi num domingo, 14 de março de 1948, que o Vasco da Gama rompeu as fronteiras do Brasil para se tornar o primeiro clube campeão sul-americano da História. O Gigante da Colina conquistou o Torneio Sul-Americano de Clubes Campeões, no Chile, competição que foi embrião para a disputa, a partir de 1960, da Copa Libertadores da América. Aliás, há correntes que afirmam que este formato também teria dado origem à Liga dos Campeões da Europa, que começou a ser disputada em 1955.
O pioneiro título do Vasco foi conquistado após um empate sem gols com o River Plate (ARG). A caminhada até lá, no entanto, foi bem mais longa. A competição contou com sete times e foi em pontos corridos. Os campeões nacionais da Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai representaram seus países, sendo eles o próprio River, além de Litoral, Colo-Colo (organizador do torneio) e Nacional, respectivamente. O Municipal foi o representante do Peru, mesmo sendo vice-campeão de seu país, já que o Atlético Chalaco, campeão, recusou-se a jogar.
Porém, nem todos os países sul-americanos tinham campeonatos nacionais. O Equador era um deles e, por isso, foi chamado o Emelec, campeão da cidade de Guaiaquil e mais forte entre os clubes de seu país. E o outro era o Brasil. Como só existiam campeonatos estaduais em 1948, o Vasco foi chamado por ser o atual campeão do Estado que detinha o título de seleções estaduais. Como o Rio de Janeiro era tricampeão nacional, os cruz-maltinos, campeões cariocas de 1947, foram convidados para o campeonato.
Quando a bola rolou, o Vasco foi soberano. Na estreia, venceu o Litoral (BOL) por 2 a 1. Depois, goleou Nacional (URU), por 4 a 1, e Municipal (PER), por 4 a 0. Depois, uma vitória pelo placar mínimo sobre os equatorianos do Emelec e um empate com os chilenos do Colo-Colo deixou o Vasco a um empate do título. Do outro lado, porém, estava o temido River Plate, conhecido como "La Máquina": o melhor time da argentina. Como o Vasco poderia abrir três pontos de vantagem sobre os argentinos, que ainda jogariam uma vez mais após aquele domingo, o título já estaria definido: naquela altura, a vitória valia apenas dois pontos.
No River, o time tinha os notáveis Di Stéfano (que se consagrou no espanhol Real Madrid, anos depois), Labruna e Loustau. Jogava o Vasco com Barbosa; Augusto e Wilson; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Friaça, Ismael e Chico. Os argentinos, com Grisetti; Vaghi e Rodríguez; Yácono, Rossi e Ramos; Reyes, Moreno, Di Stéfano, Labruna e Loustau. Num jogo tenso, o explosivo Chico foi expulso após uma troca de agressões com Méndez, que entrou no segundo tempo.
Pelos últimos minutos, um pênalti para o River. O chute que podia ter mudado o destino daquele título foi feito pelo grande Ángel Labruna. Mas, do outro lado, também havia um grande: Moacir Barbosa, o goleiro cruz-maltino, caiu para o canto esquerdo após um chute fraco e manteve o zero no placar. Ao fim dos 90 minutos, mais cinco minutos de prorrogação viram o River perder duas chances claras e a confirmação de que o Vasco da Gama era o primeiro campeão sul-americano, diante de um lotado Estádio Nacional de Santiago.
Se a comemoração já foi grande no Chile, no Rio, dias depois, a festa foi imensa. A conquista foi grandemente valorizada pela imprensa do Brasil e do exterior. A primazia de um título continental fez o Vasco buscar, junto à Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL), o reconhecimento da conquista como uma Libertadores, que o Vasco conquistou no ano de 1998. Até hoje, o campeonato não é oficialmente igualado com o torneio disputado atualmente, mas a importância e o peso de sua conquista vão além disso. Naquela tarde, em Santiago, o time de São Januário provou ter vocação para o pioneirismo.
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