Clóvis Cechinel - Geriatra (Lab. Álvaro)
O Dia Mundial da Doença de Alzheimer, que acontece em 21 de setembro, é coordenado pela ADI - Alzheimer’s Disease International -, que reúne as associações de Alzheimer em todo o mundo, com o objetivo de atrair a atenção da mídia internacional, governos e sociedade, bem como das famílias que convivem com idosos com problemas de memória e que são considerados como portadores de fenômenos “normais” do envelhecimento.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a taxa estimada de Doença de Alzheimer no Brasil é de 7,7 por cada mil pessoas-ano, em indivíduos com mais de 65 anos. A taxa de incidência praticamente dobra a cada cinco anos, não havendo diferença em relação ao gênero. Mesmo assim, as mulheres apresentam incidência mais elevada, principalmente em idades mais avançadas.
Embora a Doença de Alzheimer seja relacionada ao envelhecimento, existem alguns casos mais raros em que ela ocorre dentro das famílias, em razão de uma mutação em um gene herdado, que tende a ser a causa da doença de "início precoce", antes dos 60 anos, segundo explica Clovis Cechinel, geriatra do Laboratório Alvaro.
A Demência de Alzheimer é uma doença que foi descrita pela primeira vez em 1907 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer e que aumenta a prevalência a partir dos 60 anos, alcançando praticamente 40% dos pacientes nonagenários. A prevalência da demência aumenta progressivamente com o envelhecimento, sendo a idade o maior fator de risco para a doença.
Ainda segundo o especialista, o Alzheimer é uma doença degenerativa do Sistema Nervoso Central, com evolução lenta e progressiva, e que se manifesta por deterioração cognitiva, que geralmente tem início com perda de memória e comprometimento progressivo das atividades de vida diária, evoluindo, nas fases moderada e grave, para uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos que incluem alterações comportamentais, perda da autonomia e de independência, até a completa imobilidade.
Cechinel complementa que esta doença tem uma durabilidade média de 12 anos, mas pode alcançar mais tempo, dependendo de fatores individuais e de suporte socioassistencial.
De acordo com o geriatra, apesar de todo o empenho da comunidade científica global, ainda há muito o que se aprender sobre a doença. “Acredita-se que sua causa seja multifatorial e a prevenção engloba desde hábitos de vida saudáveis e contínuo estímulo intelectual até o controle de doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial e depressão”.
Cechinel lembra que a demência não afeta apenas a pessoa em si, mas também traz impactos em grande parte de famílias, profissionais, comunidades e na sociedade como um todo. “A Doença de Alzheimer é um problema de saúde que causa grande impacto para a família, pois representa sobrecarga de demandas com quem convive. A incapacidade de realizar algumas tarefas simples e de manter o autocuidado causa dependência física e financeira dos familiares, os quais podem sofrer ainda mais se não forem informados sobre a evolução da doença e o modo de enfrentá-la”, revela.
O especialista descreve que é bastante comum o familiar e/ou cuidador apresentarem estresse, desgaste físico, ansiedade e depressão, fatores que, por sua vez, com frequência geram conflitos familiares. “Desta forma, o atendimento não pode ser centrado apenas no paciente, devendo visar também o bem-estar da unidade paciente-família-cuidador”.
De acordo com o médico, “sabe-se que os familiares e/ou cuidadores com mais subsídios sociopsicológicos atenderão com mais conforto as necessidades crescentes dos pacientes portadores da Demência de Alzheimer”.
O geriatra também afirma que as abordagens não farmacológicas são de extrema importância para o controle comportamental e para a comunicação, objetivando a manutenção da funcionalidade, além das orientações para cuidados com a pele, ajustes ambientais para a prevenção de quedas e a organização do cuidado. “O tratamento deve ser individualizado e proporcional, primando pela dignidade e qualidade de vida”, diz.
O geriatra Cechinel finaliza ressaltando que, embora não possa ser curada, a Doença de Alzheimer pode, sim, ter sua evolução retardada e seus efeitos sobre os distúrbios de comportamento controlados por meio de tratamento farmacológico.