Por Humberto Pinho da Silva
Num domingo de Janeiro, ao entrar nos Jardins de Arrábida, no autocarro 903, deparei com dois simpáticos idosos, que conversavam animadamente.
Falavam com entusiasmo, dizendo que não queriam morrer sem verem os bisnetinhos.
Todavia, o homem, lamentava com expressão de desanimo, que: “ agora os jovens não querem ter filhos!…”
A mulher concordava, sacudindo a cabeça, olhando fixamente para o interlocutor: sujeito, entrado em anos, bastante rústico e rosto muito envelhecido.
Falavam em alta voz. Todos os passageiros podiam escutar o diálogo, que para eles, era-lhes indiferente.
Quando chegamos à Devesas, o tom da conversa que era amena, elevou-se. Começaram a altercar ruidosamente.
Proclamava a mulher, para quem a queria ouvir, que não perdoava a quem lhe tivesse feito mal.
O outro, retorquiu de imediato: - “Pois faz mal. Tenho feito bem a quem me desrespeitou. Cristo disse: para oferecer a outra face, a quem nos bateu.”
- “Mas eu não sou Deus!” - Replicou abespinhada, a mulher.
- “Mas devemos cumprir o que Ele nos ensinou.” - Asseverava, o homem, convicto no que dizia.
- “Não tenho sangue de barata!” - Proclamou a mulher, exaltada. – “Quem mas faz, paga! Quem não se sente, não é filho de boa gente!”…
- “Cada um tem seu modo de pensar. Não somos todos iguais. Somos humanos, mas não iguais…. “- Conciliou o outro.
- “Sou católica! Batizei os filhos! Não vou muito a missa…porque as pernas não permitem…Mas tenho a minha fé!...”
- “O importante é cumprir o que Cristo ensinou. Ser beata…andar pela Igreja, e não cumprir…nada vale!... - Prosseguiu o homem, com ar sisudo.
- “Não sou beata!…” - Defendia-se a idosa, - “Acredito em Deus! Mas não posso perdoar!…”
- “Faz mal” - respondeu o homem. – “Deus não está só na Igreja! Mas em toda a parte! Está aqui no meio de nós!…Se acredita, deve agir como Ele quer…”
Estávamos em Soares dos Reis. O homem saiu para visitar o netinho, segundo disse, mas ao despedir-se avisou:
- Se passar pela Afurada, pergunte por A*** e todos lhe dizem quem sou.
Como esta mulher, muitos católicos, pensam, que o são, porque frequentam a Igreja e batizam os filhos. Como se isso bastasse.
O que este diálogo nos ensina é que os cristãos devem aproveitar todas as oportunidades para difundirem a Fé. Infelizmente, por vergonha, muitos preferem o silêncio.