JULIANA ROCHA E EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
Da Folha.com
DE BRASÍLIA
Da Folha.com
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta sexta-feira que as taxas de juros de empréstimos vão subir por causa do aumento do compulsório e da exigência de capital dos bancos em relação ao risco dos financiamentos.
O ministro acrescentou, porém, que considera oportunas as medidas diante da expansão do crédito no país."É claro que isso vai encarecer um pouco o crédito, mas nesse momento em que há expansão é oportuno fazê-lo", afirmou o ministro da Fazenda.
Mantega disse ainda que o nível de financiamento no Brasil já voltou ao nível anterior à crise financeira dos Estados Unidos, iniciada em 2008.
Apesar da preocupação do governo com o mercado de crédito no país, Mantega negou que a qualidade dos financiamentos, como o nível de inadimplência e a capacidade de pagamento, seja ruim.
"Não é que o crédito está preocupante. Hoje já foi totalmente restabelecido o crédito do período pós-crise. Tem que dar uma moderada para que não passe dos limites", afirmou.
MEDIDAS
O Banco Central anunciou hoje uma série de medidas para reduzir o ritmo de aumento do crédito e intensificar o processo de desaceleração da economia, a fim de evitar o aumento da inflação.
Haverá aumento do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC), para retirar R$ 61 bilhões da economia, restrição para empréstimos de longo prazo a pessoas físicas e retirada da ajuda do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para bancos de menor porte.
O depósito compulsório é um dos instrumentos que o Banco Central usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas. A medida adotada neste momento pelo governo foi tomada para tentar conter a inflação.O objetivo, de acordo com o presidente do BC, Henrique Meirelles, é restabelecer as condições do mercado de crédito no período pré-crise de 2008 e evitar a formação de bolhas.
MEDIDAS
Além do aumento do compulsório sobre depósitos à vista e a prazo, as emissões de Letras Financeiras ficarão isentas de recolhimento compulsório (depósitos a prazo).
"Essa medida reduz a liquidez do mercado e inibe a formação de bolhas e a assunção de riscos que podem ser negativos para a saúde da economia no futuro. Elimina também o restante das medidas de liquidez introduzidas durante a crise", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Em relação ao crédito para pessoas físicas, os bancos terão de possuir uma reserva maior de capital para conceder empréstimos nas linhas: consignado (acima de 36 meses), veículos (acima de 24 meses, dependendo do valor da garantia) e outros financiamentos acima de 24 meses.
Financiamentos imobiliários, crédito rural e compra de veículos de carga (ônibus e caminhões) não serão atingidos pela medida.
INFLAÇÃO
Meirelles destacou que essa medida também tem implicações macroeconômicas, "com impacto no mercado de crédito e também via preços".
Ele afirmou que essas ações "macro-prudenciais" não substituem a política de regulação da taxa básica de juros, mas devem ser usadas de forma complementar pelo BC.
"É prudente não dissociar essas ações das de política monetária. São complementares e usadas em situações diferentes. Em março de 2010, o BC também elevou as alíquotas de compulsório e, em abril, adotou medidas de política monetária com o aumento da taxa Selic", disse o presidente do BC.
CARTEIRAS DE CRÉDITO
Em relação a carteiras de crédito, o governo vai manter o incentivo para bancos grandes comprarem ativos de instituições menores. A medida acabaria no próximo dia 31, mas foi estendida até junho de 2011.
O governo também anunciou o cronograma de retirada do mecanismo que permitiu a bancos emitir títulos que tinham garantia do FGC. Começa em janeiro de 2012 e termina em janeiro de 2016.