Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
A baixa testagem, o autodiagnóstico -quando a pessoa acredita estar com gripe ou Covid, mesmo sem testar- e o autoteste -comprado em farmácias para realizar em casa, que pode ter um índice de falso positivo e não tem notificação compulsória- podem mascarar os novos casos de Covid e geram uma subnotificação, apontam especialistas. Por Agência Brasil
Há uma tendência de alta de positividade nos laboratórios públicos e privados nas últimas semanas, de acordo com o Ministério da Saúde.
Segundo último informe do dia 10 de agosto, houve um aumento de 29,8% nas médias móveis de casos (total de casos na semana dividido por sete) e de 39% nos óbitos registrados na semana epidemiológica 32, em comparação com a semana anterior. Os casos novos foram de cerca de 4.000 para 9.000 no período.
Os dados, no entanto, são apenas uma pequena parte da realidade: cerca de 20%, segundo Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Infotracker, que acompanha a evolução da pandemia.
“Tem uma parcela que não entra nas estatísticas oficiais. Sabemos uma ínfima porção dos casos, que são mais severos, pessoas que acabam buscando postos de saúde ou até hospitalização”, afirma.
Procurado, o Ministério da Saúde informou que implementou uma série de estratégias para evitar a subnotificação de casos das duas doenças, como a ampla disponibilização de diagnósticos, incluindo RT-PCR e testes rápidos de antígeno.
De acordo com Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretora de imunização da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o interesse pelos testes de Covid diminuiu conforme as pessoas optam pelo autodiagnóstico. Isso costuma acontecer em casos de sintomas característicos de quadros leves da doença.
“Com o avanço da pandemia e com a modificação do quadro clínico da Covid, as pessoas podem ter um quadro que parece uma infecção respiratória, como uma coriza, tosse, dor de cabeça, acham que é gripe e não vão testar como testavam no passado. A falta de diagnóstico faz com que a gente não tenha números reais do que está acontecendo no nosso país”.
Os quadros mais leves estão associados tanto a ter tido Covid uma vez quanto à eficácia das vacinas. Para Casaca, esse problema poderia ser reduzido com uma política pública de incentivo à testagem. “Infelizmente, não há essa política e isso, além de contribuir para a subnotificação, se traduz em uma percepção para a população de que a Covid acabou”.
O autoteste vendido em farmácias, por sua vez, faz com que os casos não cheguem à estatística oficial. A pasta da Saúde não criou um mecanismo para receber informações de autotestes, diz o médico sanitarista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Cláudio Maierovitch.
O acesso aos testes também é um problema apontado por Casaca. Embora estejam disponíveis na rede pública, ainda é mais fácil a obtenção de testes na rede privada, onde existe um outro problema, que é o alto custo. Os mais baratos custam, em média, R$ 50 a unidade.
Segundo Casaca, a vigilância genômica nacional também não é tão forte quanto em outros países. “Ter um mapeamento mais rápido dos casos [ajuda a] antever a explosão de casos. Caso haja crescimento de uma variante que é muito agressiva, você consegue direcionar políticas públicas para aquela localidade.”
Outros dados também podem apontar a subnotificação de casos de Covid. Os mais confiáveis dizem respeito à internação por Srag (síndrome respiratória aguda grave) e os dados de mortes por vírus respiratórios, segundo Maierovitch.
Segundo informe do Ministério da Saúde, 46% das 63 mortes por Srag entre as semanas epidemiológicas 30 a 32 aconteceram por covid.
Para Richtmann, a falta de testagem é prejudicial, principalmente, aos grupos de risco. “Para o jovem que tem quadro clínico leve não faz diferença, mas pode colocar pessoas em risco. Talvez o descaso com quadro clínico de um indivíduo reflita uma falta de responsabilidade social.”
AUMENTO DE CASOS E VACINA
O aumento de casos no Brasil, em geral, acompanha uma curva de aumento de casos no mundo e pode estar associado à chegada de novas variantes.
Nos últimos meses, houve um pico de novas infecções principalmente nos Estados Unidos. A França e outros países da Europa também apontaram a presença em ascensão da variante KP.2, batizada de “FLiRT”.
Para garantir a proteção, os especialistas reforçam que a vacina ainda é determinante. No Brasil, só podem tomar a vacina os grupos de risco, como crianças entre 6 meses a 4 anos, pessoas com 60 anos ou mais, gestantes, puérperas, imunocomprometidos e pessoas a partir de 5 anos com comorbidades.
Além dessa restrição, os profissionais também já apontaram uma irregularidade na presença da vacina nos postos de saúde em alguns estados. São Paulo foi um deles.
Procurada, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que recebeu 250 mil doses da vacina adaptada contra as novas variantes da empresa de biotecnologia Moderna em agosto, que já fez uma nova solicitação de doses ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) e que aguarda o repasse.
O Ministério da Saúde do governo Lula (PT) entregou menos de 10% das vacinas atualizadas contra a Covid prometidas para 2024. Com poucas doses, a campanha tem ritmo lento e público-alvo limitado.
A pasta diz que novas aquisições da vacina estão em andamento, e na última segunda-feira (19) foi iniciado o pregão eletrônico para a compra de mais doses.
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