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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Pesquisadores alertam oftalmologistas sobre diagnóstico de forma rara de Alzheimer

Por Patrícia Pasquini | Folhapress
Foto: Tony Winston / Agência Saúde -DF
Problemas visuais podem ser sintomas de uma das formas atípicas do Alzheimer. A atrofia cortical posterior é caracterizada por dificuldades proeminentes e precoces. Via BN

"Muitas vezes, os pacientes procuram o oftalmologista com dificuldade para ver em profundidade, descer as escadas, ver detalhes dos objetos. Olham uma folha e não conseguem ler o que está escrito. Num caso mais avançado, a pessoa se comporta como cega e não consegue andar, sai tropeçando", explica a neurologista Elisa de Paula França Resende, doutora em neurociências pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde leciona, e vice-coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).

"Às vezes, os pacientes trocam de óculos, passam por cirurgias, operam a catarata e não melhoram. Esse é um grande sinal de alerta", reforça Resende.


Um estudo publicado na revista científica Scientific Reports em maio deste ano mostrou que pessoas com processamento visual mais lento (por perda gradativa) têm risco elevado de desenvolver precocemente demência. Os pesquisadores defendem que os exames de sensibilidade da vista podem ser usados na detecção de pacientes suscetíveis a essa e outras condições neurodegenerativas, como Alzheimer.

Nas síndromes atípicas, a progressão da doença é rápida. Em dois ou três anos aparecem as dificuldades de memória, para organizar a vida e a perda das funcionalidades.

O diagnóstico de atrofia cortical posterior deve ser ágil, mas alguns oftalmologistas não têm esse "insight" de orientar a pessoa a procurar um neurologista, segundo a médica.

"É uma conscientização mesmo. O paciente fica perdido no mundo, sem saber o que pode estar acontecendo, até alguém falar 'vá ao neurologista'. Aí ele é diagnosticado."

Especialistas discutiram o assunto nesta quarta-feira (26), no Brain Congress 2024, um congresso sobre comportamento, emoções e saúde mental, realizado no Rio de Janeiro, de 26 a 29 de junho.

Para os pesquisadores, no caso da atrofia cortical posterior, cabe ao oftalmologista suspeitar que o problema é neurológico e fazer o encaminhamento do paciente. Eles defendem maior integração e conversa entre os dois profissionais médicos.

"Mais importante ainda é que os oftalmologistas conheçam essa apresentação atípica da doença de Alzheimer chamada de atrofia cortical posterior, e saibam que os sintomas são mais de natureza visual e muitas vezes fazem com que pacientes ou familiares procurem um oftalmologista, e não um neurologista ou um geriatra", afirma Paulo Caramelli, neurologista, professor titular da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

O espaço para troca de informações entre neurologistas e oftalmologistas tende a crescer, como com a neuroftalmologia, uma subespecialidade da medicina que trata dos problemas visuais relacionados ao sistema nervoso central. "Dentro da Associação Internacional de Pesquisa em Doença de Alzheimer existem grupos de interesse, e um deles é o olho como biomarcador do diagnóstico de Alzheimer. Esse diálogo é fundamental", comenta Caramelli.

Na opinião do neurologista, é importante que o paciente também busque se informar a respeito do assunto e faça avaliação oftalmológica e também com o neurologista. "É saber verificar que não se trata de um problema de acuidade visual, de nitidez da percepção visual, mas de uma questão de processamento visual", orienta.

A atrofia cortical posterior é uma das quatro formas atípicas de Alzheimer, que juntas representam 15% dos casos no mundo --o dado é internacional. São mais frequentes em pessoas com menos de 65 anos, de acordo com Resende.

As outras três são afasia progressiva primária logopênica (dificuldade com linguagem é o primeiro e principal sintoma), variante comportamental e disexecutiva (marcada pelas alterações comportamentais, como mudança de personalidade, apatia, desinibição) e síndrome corticobasal (parkinsonismo assimétrico, incapacidade de reconhecer letras ou formas geométricas desenhadas em alguma parte do corpo, não identifica objeto pelo toque, presença de espasmos e contrações musculares).

Os 85% restantes referem-se à forma comum de Alzheimer, que surge com o comprometimento da memória, repetição de casos e perguntas, perda de objetos e esquecimento de compromissos.

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