Dados do Pnad 2022 mostram que a região possui a maior disparidade de tempo entre homens e mulheres
Reportagem: Thiago Aquino*Edição: Graziela França e Lucas Maia / Agência Tatu
As mulheres nordestinas dedicam 23 horas e 5 minutos por semana aos afazeres domésticos, o dobro do que é gasto por homens, que passam 11 horas e 8 minutos em média, na realização dessas atividades. É a maior diferença de tempo nos serviços domésticos entre mulheres e homens entre as regiões do Brasil.
A Agência Tatu analisou os dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) 2022 e realizou um comparativo entre gênero e região. A estatística completa pode ser consultada no Banco de Tabelas e Estatísticas (Sidra).
Tempo semanal dedicado aos afazeres domésticos
Maior diferença entre mulheres e homens é no Nordeste: 11,7 horas a mais
O Sul registrou a menor diferença: enquanto os homens dedicam 11 horas e 1 minuto por semana, as mulheres gastam 19 horas e 1 minuto com os afazeres de casa, 7 horas e 7 minutos a mais.
Alagoana é a que mais realiza afazeres domésticos: mais de 25 horas semanais
É em Alagoas onde a mulher dedica mais tempo aos afazeres domésticos entre os estados do Brasil. São 25 horas e 4 minutos semanais, ou seja, ao somar o tempo gasto por semana com as tarefas, as mulheres gastam mais de um dia realizando essas atividades, enquanto os homens dedicam apenas 13 horas à função.
Tempo gasto com afazeres domésticos por homens e mulheres
Veja o tempo médio semanal em cada estado
Já na diferença de tempo entre mulheres e homens, Sergipe lidera: enquanto as mulheres têm 24 horas e 7 minutos dedicados aos serviços de casa, os homens passam 11h e 2 minutos da semana nas atividades domésticas, uma diferença de 55% do tempo.
Divisão de tarefas
A dentista Monick Cordeiro e o engenheiro químico Rafael Araújo, de Maceió, estão casados há quase um ano, e quando o assunto é atividade de casa eles dizem que sempre tentam dividir as tarefas. No entanto, Monick sempre passa mais tempo nos afazeres domésticos.
“Como Rafael passa mais tempo fora de casa, acabo assumindo a maior parte dos afazeres. Apesar disso, a faxina nos finais de semana sempre é dividida e já tem atividades nestes dias que são fixas dele, como lavar louças e as que exigem mais força, principalmente agora que estou gestante”, explica Monick.
A pesquisadora de temas na área de políticas públicas para mulheres, Marli de Araújo Santos, explica que a desigualdade na realização dos afazeres domésticos é um fator histórico e que a carga maior é absorvida pelas mulheres.
“É uma carga de trabalho historicamente direcionadas às mulheres, que normalmente começa quando as mulheres acordam e necessariamente não termina quando as mulheres vão dormir, porque implica desde as tarefas domésticas e também nos cuidados com os outros e isso também é um trabalho. o Nordeste é a região que mais sofre com desigualdade e apresenta esse índice mais precarizado”, relata a pesquisadora, que também é doutora em Serviço Social e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Marli reforça que as atividades de casa, que deveriam ser divididas igualmente, deixam de ser afazeres domésticos e se tornam, na verdade, mais um trabalho para a mulher. “A mulher tem dupla jornada de trabalho, porque mesmo quando trabalha fora do lar também trabalha dentro do lar, a diferença é que o trabalho doméstico é um trabalho não reconhecido, logo é um trabalho não pago”, pontua.
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