Foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
"Vou te matar com explosivos", "já pensou em ver seus familiares estuprados e sem cabeça?", "vou quebrar seu pescoço", "aquelas câmeras de segurança que você colocou não fazem diferença". O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) viveu rotina semanal de ameaças de morte pelos dois últimos anos antes de decidir abandonar o mandato e o Brasil.
Disparadas pelas redes sociais, no e-mail e telefone do gabinete em Brasília, ou no e-mail pessoal do baiano, os textos motivaram a Polícia Federal (PF) abriu cinco investigações sobre as ameaças e obrigaram o deputado a andar com escolta policial desde março do último ano. Wyllys era acompanhado três agentes integralmente e transportado por dois carros blindados.
"Você pode ser protegido, mas a sua família não. Já pensou em ver seus familiares estuprados e sem cabeça?", diz uma das ameaças.
A renúncia de Jean repercutiu rapidamente nas redes sociais e nos portais de notícias, mas não livrou o parlamentar das mensagens de seus algozes. Após o anúncio, um novo e-mail, enviado de um endereço apócrifo chegou aos assessores do deputado: "Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família, como prometido. Mesmo após quase dois anos, estamos aqui atrás de você e a polícia não pôde fazer para nos parar".
Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março, Wyllys pouco saía de casa e limitava sua vida a compromissos de trabalho. O endereço onde mora era tratado como segredo e compartilhado apenas com poucos amigos e familiares mais próximos. Na campanha de 2018, o deputado se limitou às redes sociais, sem agendas de rua.
De acordo com a reportagem, uma mensagem chegou ao e-mail de Wyllys com dados seus e de seus irmãos, como endereços de todos, placa de carros. Informações que mostravam conhecimento sobre a família. A ameaça foi uma das que baseou a abertura de uma das investigações pela PF.
Em outra, o autor exemplificou como fazer uma bomba para o deputado: "Eu vou espalhar 500 quilos de explosivo triperóxido de triacetona, explosivo tão perigoso e potente que é chamado de mãe de Satan pelos terroristas do Estado Islâmico. [...] Se vocês duvidam que tenho capacidade para fazer isto, apenas vejam como é fácil produzir o explosivo".
Segundo um assessor da equipe de Jean, o endereço de IP do dispositivo do qual partiram essas mensagens remetiam ao exterior, uma delas à Califórnia. A constatação, que teria sido feita em investigação da própria PF, levou a equipe dele a considerar como alto o nível de qualificação e de conhecimento tecnológico dos autores.
Os atentos também incluíam a família do parlamentar: “Vamos sequestrar a sua mãe, estuprá-la, e vamos desmembrá-la em vários pedaços que vamos te enviar pelo Correio pelos próximos meses. Matar você seria um presente, pois aliviaria a sua existência tão medíocre. Por isso vamos pegar sua mãe, aí você vai sofrer”.
Em outubro do ano passado, Wyllys enviou um pedido de medida cautelar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA) relatando as ameaças que sofria e a falta de medidas protetivas do Estado brasileiro.
“Wyllys, hoje, está sendo compelido a viver quase que sem sair de sua residência, limitando seus compromissos ao estritamente necessário no campo profissional. Não tem levado vida normal, saudável ou tranquila”, disse a OEA.
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