Entre os 22 mandados de prisão emitidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do RJ, na Operação Ressonância, estão ordens contra um executivo da Philips, Frederik Knudsen, e Daurio Speranzini Júnior (foto), ex-Philips e atual CEO da GE para a América Latina. Também é alvo o empresário Miguel Iskin, solto por decisão do ministro do STF Gilmar Mendes em outubro de 2017. A operação, um desdobramento da Fatura Exposta, braço da Lava Jato no Rio, mira contratos na área da saúde celebrados pelo estado do Rio e pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into). Também foi decretado o bloqueio de bens dos investigados no total de 1,2 bilhão de reais.
Segundo a Procuradoria da República no Rio, a partir das investigações da Fatura Exposta, órgãos de controle como o Conselho de Defesa Administrativa (Cade), o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) identificaram um cartel de fornecedores que atuou entre os anos de 1996 e 2017 no Into. De acordo com as investigações, a empresa Oscar Iskin, do empresário Miguel Iskin, era a líder do cartel formado por pelo menos 33 empresas, algumas delas atuando como laranjas das demais, que se organizavam no chamado “clube do pregão internacional”. Segundo as investigações, o núcleo operacional da organização criminosa era formado por funcionários de confiança da empresa Oscar Iskin. Eles eram responsáveis por fazer a ligação entre o setor público (núcleo administrativo-político) e os empresários cartelizados (núcleo econômico) para direcionar as demandas públicas (insumos médicos a ser adquiridos e cotação de preços fraudadas) e as contratações, mediante a desclassificação ilícita de concorrentes que não faziam parte do cartel. Ainda de acordo com a Procuradoria, Frederik Knudsen era supervisor de vendas da Philips à época dos fatos e articulou as vendas de equipamentos para o poder público com um funcionário da Oscar Iskin e, mesmo alertado por uma testemunha sobre os indícios de fraude, orientou o seu funcionário a prosseguir com tais práticas. Já Speranzini Júnior era o CEO da empresa e hoje exerce a mesma função na GE Healthcare na América Latina, uma empresa que também foi citada pelo delator que entregou o esquema, Cesar Romero, como parte do “clube do pregão internacional”. A Procuradoria também obteve e-mail em que são “debatidas questões a respeito da certificação de um equipamento vendido pela GE para a Secretaria de Saúde por intermédio da Oscar Iskin, especialmente com a atuação de Miguel Iskin, e seus funcionários Gaetano Signorini e Marcus Vinícius”. De acordo com a força-tarefa, Daurio Speranzini Júnior “mesmo alertado por um dos funcionários da empresa acerca das fraudes”, manteve os contratos e trabalhou para “eximir a empresa de qualquer responsabilidade sobre as vendas superfaturadas”. O MPF completa que, mesmo depois que trocou a Philips pela GE, “permaneceu com as práticas ilícitas relativas à contratação com o Poder Público por intermédio da Oscar Iskin”. Em nota, a GE afirma “que as alegações são referentes ao período em que o executivo [Daurio Speranzini Júnior] atuou na liderança de outra empresa”. A empresa também diz “que não é alvo das investigações”. A GE completa dizendo acreditar “que os fatos serão esclarecidos pela Justiça e está à disposição para colaborar com as autoridades”. Já a Philips “informa que ainda não teve acesso ao processo”, mas que “está cooperando com as autoridades para prestar esclarecimentos quanto às alegações apresentadas, que datam de muitos anos atrás”. A corporação diz que seus atuais líderes executivos não são investigados e que a sua política é “realizar negócios de acordo com todas as leis, regras e regulamentos aplicáveis. Quaisquer investigações sobre possíveis violações dessas leis são tratadas muito seriamente pela empresa”. O advogado Alexandre Lopes, que defende Miguel Iskin, diz que se trata de “mais uma prisão ilegal que será revogada pelos tribunais brasileiros”. “Trata-se de repetição de operação anterior, na qual custódia preventiva já foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal. Causa perplexidade a utilização como base da prisão depoimentos de um delator chamado Cesar Romero, que ouvido em Juízo, anteriormente, foi flagrado em várias mentiras. Suas delações deveriam ser anuladas, e não usadas como arrimo de prisão ilegal”, completa. (Estadão)
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