por Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo | Estadão Conteúdo
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O desmonte provocado pela Lava Jato no setor da construção virou oportunidade para empresas que até então não conseguiam disputar espaço com as gigantes do segmento. Apesar das incertezas sobre os rumos da economia e do turbilhão que afeta o mundo político, construtoras menores estão criando estratégias para ocupar o vácuo deixado pelas grandes empreiteiras, abatidas pelo maior escândalo de corrupção do País. A Racional Engenharia é uma das que estão de olho na virada do mercado - e na máxima de que é na crise que surgem as grandes oportunidades. "Foi assim nos últimos 46 anos", diz o presidente da companhia, Newton Simões. Criada em 1971, numa sala alugada no centro de São Paulo, a empresa focou seus esforços no setor industrial durante o regime militar. Ao longo do tempo, no entanto, diversificou a atividade em outros setores, como shopping centers e edificações (hospitais e hotéis, por exemplo), o que ajudou a empresa a resistir às inúmeras crises e mudanças de moedas nas últimas décadas. Hoje, com as principais empreiteiras no olho do furacão por causa da Lava Jato, a Racional quer apostar em obras de infraestrutura e criar um novo braço de negócios na empresa. A primeira experiência com o setor veio com a construção das obras no Aeroporto de Confins, em Minas Gerais. Depois disso, a empresa estudou os quatro aeroportos que foram concedidos para a iniciativa privada neste ano e foi contratada pela suíça Zurich Airport para construir as obras em Florianópolis. O próximo passo é montar uma equipe para explorar as obras no setor portuário, como já ocorreu com o segmento de aeroportos. "Antes da Lava Jato não conseguíamos entrar como concorrente em algumas áreas. A situação mudou." Com faturamento de R$ 986,7 milhões em 2016, ele diz que a receita do grupo deve cair este ano, para se estabilizar nos próximos anos e só depois voltar a crescer. A empresa viveu seu auge em 2013, quando as receitas superaram os R$ 2 bilhões e passou a figurar entre as nove maiores construtoras do País. "Entre 2006 e 2013, a empresa cresceu quase 30% ao ano. Era um festival de boas notícias", lembra. Mas a história mudou e hoje o País vive uma escassez de novos investimentos. Neste momento, diz o empresário, a estratégia é estudas novas áreas para futuros negócios. "Comecei no início dos anos 1970, quando o País vivia uma euforia e a gente crescia em ritmo chinês. Passamos por diversas crises, como a do petróleo (no fim dos anos 1970) e tivemos de nos reinventar", conta. A história se repete agora. "A nosso favor temos o fato de a Racional estar capitalizada, sem depender de bancos para tocar nossas atividades", diz Simões, destacando que a empresa tem um estoque de obras de um ano e meio. Seguindo os passos da Racional, a Concremat - controlada desde o fim do ano passado pela chinesa CCCC, que comprou 80% do negócio - também quer avançar em infraestrutura. No caso dos chineses (que antes de comprarem a Concremat chegaram a olhar a construtora Camargo Corrêa), a ideia é tocar as obras dos investimentos do grupo, como a do porto de São Luís, e replicar o modelo nos países da América do Sul, dizem fontes a par do assunto. Outra empresa com capacidade para ocupar espaço na construção é a Toniolo Busnelo. Em 2015, as receitas da empresa tiveram aumento de 18% e alcançaram R$ 720 milhões - montante que rendeu nove posições no ranking da construção. Apesar da falta de obra no País, a construtora tem conseguido manter as receitas com obras do setor privado, como a construção de túneis no Rodoanel de São Paulo e projetos no setor de mineração. "Com esses contratos vamos manter o faturamento de 2016 (de R$ 680 milhões)", afirma diretor da construtora, Humberto Cesar Busnello. Apesar do momento delicado, o setor da construção vive o início de uma nova configuração, com a perda de poder das grandes empreiteiras. Ainda é cedo para dizer se as empresas médias vão se consolidar como grandes players do setor, mas a aposta é que haja menos concentração. Segundo o professor de infraestrutura do Insper, Eduardo Padilha, o "modus operandi" das grandes construtoras no País não é o modelo universal. "Historicamente no Brasil as construtoras viveram como concessionárias. O natural é que construtora seja construtora e os fundos de investimentos aportem recursos nas obras."
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