Deve ser muito chato viver num país todo certinho onde nada de anormal acontece. E em alguns deles existe ainda uma frieza por parte dos seus habitantes, que não discutem nada entre si e até falam baixinho com voz mansa. Não é assim aqui no Brasil, onde todos dias vivenciamos fatos que provocam ferozes debates nos bares, nas padarias e nas esquinas, às vezes com troca de sopapos entre os antagonistas, pois logo se formam grupos prós e contras. As vésperas de uma eleição municipal, onde acontece ter quase dez candidatos num mesmo quarteirão, eis que surge esta semana uma forte discussão amplamente divulgada pela imprensa entre nada menos que dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski, sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Confirmando sua fama de ser um ministro petista, Lewandovski declarou que a cassação do mandato de Dilma foi"um tropeço na democracia" numa palestra que fez na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP);
Gilmar Mendes rebateu de primeira: "Eu acho que o único tropeço que houve foi aquele do fatiamento, para o qual teve contribuição decisiva o presidente do Supremo". Com o fatiamento do julgamento autorizado pelo então presidente do STF, Dilma perdeu o mandato, mas pôde manter os direitos políticos contrariando o Art. 52 da Constituição Federal determinando que ao ser aprovado o impeachment também torna o presidente cassado inelegível por oito anos. Vale lembrar que o desmembramento da votação foi uma reivindicação do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, objetivando a abertura de um precedente que poderia ser arguido quando do julgamento de um dos inúmeros processos a que responde no STF. O pior é que o ministro e o senador estiveram reunidos horas antes da votação. Este episódio serve para que o povo faça campanha pelo fim da indicação de ministros do Supremo pelo presidente da República e que os nomeados não se sintam na obrigação de serem gratos àqueles que os indicaram. por Airton Leitão
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