(2009) O ditador líbio Muammar Kadhafi
Muitos líbios começam a sentir falta da época em que o país era governado com mão de ferro por Muammar Kadhafi, cinco anos depois de sua deposição e morte, em um país dividido e mergulhado no caos.
"Nossa vida era melhor sob Kadhafi", afirma Faiza al Naas, uma farmacêutica de Trípoli, ao se lembrar dos 42 anos durante os quais o líder líbio permaneceu no poder.
Al Naas confessa, em seguida, a vergonha que sente em dizer isso quando pensa em todos os "jovens que deram sua vida para libertá-los do tirano", referindo-se aos rebeldes que combateram as forças de Kadhafi até sua morte, em 20 de outubro de 2011.
Desde a queda de Kadhafi, a Líbia sofre com insegurança e penúria. A vida cotidiana dos líbios está pautada pelos cortes de eletricidade e pelas longas filas de espera diante dos bancos devido à falta de liquidez.
O país está afetado pelas lutas de influência, tão cruéis quanto impunes, entre as diversas milícias e tribos que compõem a sociedade líbia.
A Líbia, um rico país petrolífero com fronteiras porosas, se converteu em uma plataforma de todo tipo de contrabandos, de armas a drogas passando, sobretudo, pelo lucrativo tráfico de migrantes africanos que buscam chegar à Europa.
Aproveitando o caos posterior à queda de Kadhafi, extremistas de todo tipo, em particular do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, se implantaram solidamente no território líbio.
No plano político, o país está dividido entre duas autoridades rivais que disputam o poder.
Por um lado o Governo de União Nacional (GNA), formado após um acordo apadrinhado pela ONU e instalado em Trípoli, a capital do país.
Pelo outro uma autoridade rival instalada no leste da Líbia, uma zona controlada em grande parte pelas forças do marechal Khalifa Haftar, que em setembro passado tomou o controle dos terminais petrolíferos.
Khalifa Haftar assenta sua legitimidade no Parlamento, baseado no leste, mas reconhecido tanto pelo GNA quanto pela comunidade internacional.
Haftar sustenta que é o único capaz de restabelecer a ordem no país, de salvar a Líbia, assim como reconquistou uma parte de Benghazi, que estava nas mãos de grupos extremistas.
Seus opositores acusam Haftar de ter um único objetivo: tomar o poder e instaurar uma nova ditadura militar.
"Os líbios são obrigados a escolher entre dois extremos: o caos das milícias e os extremistas islamitas" ou "um regime militar", lamenta o analista líbio Mohamed Eljarh, do centro Rafik Hariri para o Oriente Médio.
Khalifa Haftar não consegue, no entanto, acabar com as milícias próximas à Al-Qaeda ainda presentes em Benghazi e, por sua vez, as forças favoráveis ao GNA, baseadas em Misrata (oeste), também não podem liquidar os focos de resistência do Estado Islâmico em Sirte.
Os especialistas temem que, uma vez terminado o combate aos extremistas, os dois grupos se enfrentem diretamente para controlar o país.
"É difícil imaginar que o país possa alcançar a estabilidade rapidamente devido às divisões, mas também à vontade dos protagonistas de controlar as localidades que opõem resistência", afirma Mattia Toaldo, especialista da Líbia no European Council on Foreign Relations.
Após décadas de "regime autoritário, repressivo e centralizado" de Kadhafi, os líbios se resignam, aparentemente, a "outra forma de autoritarismo, mais descentralizado e caótico, seja sob a autoridade das milícias ou de Aftar", destaca.
"A situação atual é a consequência lógica de 42 anos de destruição e de sabotagem sistemática por parte do Estado", sustenta Abderrahmane Abdelaal, um arquiteto de 32 anos, que critica os que sentem nostalgia da era Kadhafi.
Por sua vez, os partidários de Kadhafi afirmam nas redes sociais que a atual anarquia prova que o líder líbio era um "visionário" que havia advertido e previsto que, após sua saída, a Líbia afundaria no caos.
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