por Clarissa Thomé | Estadão Conteúdo**Foto: Reprodução / Facebook
O tradicional Colégio Pedro II, escola federal fundada em 1837, não tem mais uniformes masculino e feminino. Na prática, o uso de saias está liberado para os meninos. Em 2014, estudantes fizeram um "saiato", depois que uma aluna transexual vestiu a saia de uma colega e teve de trocar o uniforme. Desde maio deste ano, o Pedro II adota na lista de chamada o nome social escolhido por alunos e alunas transexuais. Portaria publicada em 14 de setembro lista o uniforme, sem distinguir que peças são para uso masculino ou feminino. Anteriormente, as meninas deveriam usar saia e camisa branca com viés azul e os meninos, calça de brim e camisa totalmente branca. "Não se trata de fazer ou não distinção de gênero. Trata-se de cumprir resolução do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (órgão ligado ao Ministério da Justiça). Eu apenas descrevo as opções de uniforme; deixo propositalmente em aberto, para o uso de acordo com a identidade de gênero", afirmou o reitor Oscar Halac. Ele reconhece que a decisão pode "causar certo furor" pelo fato de o Pedro II estar entre as escolas mais tradicionais do País. "Tradição não é sinônimo de anacronia. Mas pode e deve significar nossa capacidade de evoluir e de inovar", disse. De acordo com o reitor, a medida tem ainda o objetivo de "contribuir para que não haja sofrimento desnecessário" entre estudantes transexuais e levantar a discussão sobre tolerância e o respeito às diferenças. "A escola pública precisa sinalizar que é hora de parar de odiar por odiar." Na segunda-feira, 19, não havia alunos de saia ou meninos e meninas que tenham trocado camisas nas unidades do Centro e zona sul. Halac disse acreditar que serão poucos os que adotarão saias. "Aqui dentro eles estão seguros. Lá fora, ainda não." De acordo com o reitor, não chegou à direção qualquer reação negativa de pais de alunos. O manobrista Afonso Marcelo, de 50 anos, pai de uma aluna de 12, no 6.º ano da unidade Centro, não gostou da mudança. "Saia? Pelo amor de Deus. Aíé demais", comentou. Já a professora Ana Lúcia Pereira, de 49 anos, mãe de estudante também do 6.º ano, elogiou a medida. "Se o aluno se sente à vontade de saia ou de calça, não é isso que vai interferir na qualidade do ensino nem no caráter." As estudantes do 3.º ano Fabíola Lopes, de 19 anos, e Georgia Gusmão, de 17, elogiaram a mudança. "A quebra dessa distinção de uniforme para menino e para menina permite a inclusão das pessoas que não se identificam com esse ou aquele gênero", disse Fabíola. O Pedro II tem 13 mil alunos. De acordo com Iracema Cruz, integrante de uma das quatro comissões de pais e responsáveis, a edição da portaria foi feita depois de um longo processo. "Essa portaria atende a um anseio dos próprios alunos de poderem usar os uniformes com que se sentem à vontade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. bn
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