por Jamil Chade | Estadão Conteúdo*Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
O ministro das Relações Exteriores da Suíça, Didier Burkhalter, anuncia que seu país planeja devolver aos cofres públicos brasileiros cerca de US$ 200 milhões em ativos bloqueados por conta das investigações no marco da Operação Lava Jato. Em um discurso em Londres durante a cúpula anti-corrupção organizada pelo governo de David Cameron, Burkhalter insistiu que o gesto em relação ao Brasil mostra que a Suíça está disposta a cooperar. "Planejamos restituir quase US$ 200 milhões (R$ 680 milhões) ao Brasil no caso Petrobras", disse em sua intervenção diante de chefes de estado de todo o mundo. Até agora, o Ministério Público da Suíça já aceitou a transferência de cerca de US$ 120 milhões, em especial de casos relacionados com ex-diretores da Petrobras que fecharam acordos de delação premiada e aceitaram devolver os recursos bloqueados. O governo suíço não explicou de onde seria o restante do volume de recursos repatriados. No total, Berna indica que já congelou mais de mil contas bancárias relativas à suspeitos no caso da Operação Lava Jato, num valor de cerca de US$ 800 milhões. Em seu discurso pela manhã, Burkhalter admitiu que repatriar os recursos da corrupção no mundo tem sido um trabalho lento. "Apesar de todos os esforços, entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões deixam os países em desenvolvimento todos os anos. Nas últimas décadas, US$ 5 bilhões foram retornados aos países originais. Desses, quase US$ 2 bilhões foram enviados pela Suíça", defendeu. "Os processos são muito longos, levam anos e produzem poucos resultados", criticou. Para ele, governos precisam fechar acordos políticos e parcerias para mudar essa realidade. Para o ministro suíço, congelar dinheiro deve ser apenas uma medida de "última instância" para lutar contra a corrupção. "Prevenir a corrupção deve ser nossa prioridade", disse. Segundo ele, governos precisam garantir regras de maior transparência para evitar o uso de empresas de fachada para esconder recursos. A permissão da existência de "beneficiários" em contas secretas, como no caso de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) precisa ser tratada. "Infelizmente, estamos distantes de uma implementação", alertou. Considerada por anos como um dos centros da lavagem de dinheiro no mundo, a Suíça adotou hoje um tom diferente ao falar do assunto. "A corrupção é uma força destrutiva. Ela mina o melhor dos feitos humanos. É um obstáculo para a igualdade e uma taxa sobre o desenvolvimento econômico", disse o ministro. Burkhalter, apesar de prometer que seu país vai lutar contra o problema, também fez um alerta aos demais governos. Segundo ele, a melhor prevenção é "boa governança, estado de direito e distribuição adequada de poder". bn
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