Não é de hoje que o Jornal da Metrópole denuncia a falta de infraestrutura nas cidades de Itaparica e Vera Cruz. Com buracos por toda parte e lixo tomando conta, os turistas vão desaparecendo aos poucos do local, que, com águas cristalinas e belíssimas paisagens, deveria ser um dos polos turísticos da Bahia. “A sujeira de Ponta de Areia... A coleta de lixo é feita muito irregularmente. Na rua principal, sim, acho que para mostrar que fazem a coleta. Mas a Rua do Rio mesmo, é mal cuidada”, conta Luciana Nascimento, veranista da ilha há mais de 10 anos.Já acostumados com a falta de limpeza e condições precárias nas vias, o que hoje mais assusta os nativos e visitantes da ilha é a violência. “A ausência do estado em Vera Cruz abriu brechas para a criminalidade se instalar nas localidades de Barra Grande, Pedrão e Tairu. No Pedrão, no dia 20, por volta de 20h30, bandidos encapuzados entraram em uma residência, saquearam os pertences, amarraram o dono da casa e levaram o automóvel”, conta um morador da ilha que, por medo da violência que se instaurou no local, preferiu não se identificar.“Mais cedo, na mesma localidade, três homens encapuzados roubaram um mercadinho na beira da pista na entrada de Campinas. Na localidade de Barra Grande, os moradores estão em pânico: assaltos à luz do dia têm se tornado frequentes em toda região”, conta. Agora, acredite: para o prefeito de Vera Cruz, a responsabilidade pelo aumento exponencial da criminalidade é de “visitantes de baixa renda”. A culpa é do pobre agora?
Prefeito: “visitantes de baixa renda” aumentaram violência
Procurado pelo Jornal da Metrópole, o prefeito Magno do PT atribuiu a culpa do aumento da violência em Vera Cruz a “visitantes de baixa renda”. “O município recebe um tipo de visitação, ultimamente, de baixa renda, que a gente recebe com todo o carinho, mas que traz também uma visitação predatória e traz os desdobramentos que a violência tem gerado no país inteiro”, disse o prefeito.Mencionando que a responsabilidade da segurança é do estado — embora municípios possam pleitear e cobrar melhor policiamento —, Magno afirma que a Prefeitura tem feito o que pode. “Fizemos reunião com o comando da Polícia Militar e com a Secretaria de Segurança Pública. O que o município pode fazer é isso: provocar as esferas competentes”, disse. Enquanto o prefeito provoca — o povo, inclusive —, a violência no município segue crescendo.O prefeito de Itaparica, Raimundo Nonato da Hora Filho, foi procurado para comentar a violência na cidade vizinha, mas não retornou as nossas ligações.
Assaltos e sequestros a comerciantes viram rotina
A presidente da Associação de Moradores de Vera Cruz, Lenise Ferreira, confirmou os frequentes assaltos na região. Segundo ela, os municípios de Vera Cruz e Itaparica estão registrando diversos sequestros. “Houve, sim, inclusive de empresários. A Ilha de Itaparica, infelizmente, consta como um roteiro do tráfico de drogas. A sociedade civil, Polícia Civil, Militar e Rodoviária estão unidos no intuito de tentar coibir essa violência”, afirma.De acordo com a representante dos moradores, a falta de policiamento propicia a atuação dos bandidos. “Muitos desses marginais migram da capital para a ilha em virtude, talvez, da facilidade de entrada pelos terminais marítimos e rodoviários. Grande parte dessa marginalidade que vem de fora atua aqui”, explica.
“Ladrão no pé da cama”
Com a violência cada vez maior, a solução encontrada por moradores e veranistas tem sido se trancafiar em casa. Grades para janelas e portas tomaram o lugar da água de coco e do protetor solar como os itens mais procurados na Ilha. “Foi-se o tempo em que a gente podia dormir com as janelas abertas, com a brisa do mar. Hoje em dia, quem é doido de fazer isso? É arriscado acordar com um ladrão no pé da cama”, reclama um morador de Taipoca, em Vera Cruz, que preferiu não se identificar.Optando por não deixar de ir à Ilha, a saída encontrada pela família da culinarista Luciana Nascimento foi tentar se proteger. “Meu pai teve que colocar grade, inclusive aquela espiral no muro e no fundo da casa. Se deixar... Graças a Deus, a casa ainda não foi arrombada. Mas tem muitos relatos de outras que já foram”, conta.Ficar até depois do pôr do sol na praia ou caminhar nas primeiras horas da manhã, práticas recorrentes até anos atrás, também tiveram que ser esquecidas. “Não tem segurança, fica muito complicado. Já tivemos relatos de um arrastão [em Ponta de Areia] e isso prejudica também os moradores de lá e nós, veranistas. A falta de segurança deixa a pessoa temerosa”, diz.
Estupros: quase um por mês
E a sensação de insegurança é comprovada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). De 2014 até junho de 2015, 60 homicídios e latrocínios foram registrados em Vera Cruz e Itaparica.A situação é ainda pior em Vera Cruz, cidade comandada pelo prefeito Magno do PT, que registrou 43 dos crimes que resultaram em mortes. O estupro é um dos principais crimes registrados na região. Em 2014, foram 11 casos, três em Vera Cruz e oito em Itaparica. Em 2015, o crime aumentou em Vera Cruz, que registrou cinco casos até junho. Procurada pela Metrópole, a PM não respondeu o questionamento sobre o efetivo policial destinado à região. “Efetivo é dado estratégico, por isso não é disponibilizado pela Corporação”, informou em nota.
Policiamento intensificado no verão
Procurada pela Metrópole, a PM afirmou que o policiamento será intensificado nos feriadões e no verão. “Estão sendo realizadas abordagens preventivas com o apoio do Batalhão de Polícia Rodoviária, nas principais vias de acesso, como nos terminais de Bom Despacho e Mar Grande e na Ponte do Funil”, declarou, em comunicado.A instituição informou também que, na última terça-feira (27), promoveu um encontro do comando da 5ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) com lideranças comunitárias, comerciantes e representantes do Ministério Público “para discutir novas estratégias de segurança para os municípios de Itaparica e vera Cruz”.(M1)
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