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domingo, 27 de setembro de 2015

Ninguém pode definir o seu time e quem você ama

Cristina Falbo de Miranda e Henrique são góticos e se casaram na Arena Corinthians. Foto: Estadão Conteúdo

Neste sábado, 400 casais e nove mil convidados foram a Arena Corinthians para um casamento coletivo. Pessoas de todas as idades, credos e classes sociais no mesmo estádio para celebrar oficialmente a união de famílias. E família foi uma das palavras de ordem nesta semana quando uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou o que batizaram de ‘Estatuto da Família’. Na prática, uma tentativa chula de criar um dogma para algo extremamente complexo como os laços afetivos que cultivamos ou que a vida nos oferece. 

Veja bem: para Eduardo Cunha e sua turma, a definição de família deve ser usada apenas para nomear a união entre homem e mulher. Uma representação tacanha em uma sociedade diversa como a nossa. Filhos de mães solteiras, crianças criadas pelos avós e casais homossexuais para essa gente não constituem ‘família’. 

Por que raios trato desse assunto em um espaço que deveria ser destinado ao futebol? Ora, porque esse quadro social com ares medievais infere diretamente no nosso jogo. De modo quase geral, o futebol praticado pela seleção brasileira e pela maioria dos clubes reflete diretamente esse momento horroroso em que estamos vivendo. É um futebol pragmático, chato, corrido e cinza. Quase não resta espaço para os elementos lúdicos que sempre caracterizaram a nossa escola. Um drible mais abusado passou a ser considerado ofensa por jogadores, torcedores, técnicos e também pela crônica esportiva. 

Áureo e Gisele oficializaram união de 15 anos. O casal se conheceu em um baile funk. Foto: Estadão Conteúdo
A caretice impera. Seja na vida. Seja no futebol como representação dela. Heleno de Freitas atualmente seria reduzido a um jogador-problema e não ao craque que foi. Garrincha então… Evidente que existem exceções. E ainda bem que elas existem. Acompanhei curioso a repercussão nos últimos tempos da lambreta de Douglas Costa em cima de um adversário do Bayer Leverkusen. A jogada aconteceu no nosso último dia 30 de agosto e o companheiro de clube do brasileiro, Arjen Robben qualificou o lance como uma ‘acrobacia de circo’. Muita gente por aqui criticou a jogada e concordou com o atacante holandês. Eu discordo completamente. Eu enxergo a lambreta como algo típico do futebol brasileiro. E eu gosto de acrobacias de circo. 

Algo de bom ainda resiste em nosso futebol diante desse cenário carrancudo em que estamos inseridos. Douglas Costa é um exemplo disso. É um craque e também um menino marrento. Torço para que nunca deixe de lado esse aspecto no seu jogo. Assim como torço para que as pessoas não se deixem influenciar pelas definições toscas de parlamentares eleitos para servir o povo e não interesses religiosos, econômicos ou partidários. 

Ninguém tem o direito de dizer para qual time você deve torcer. E ninguém pode limitar o que você considera sua família. O dicionário Michaelis tem nove definições para ‘família’. E mesmo assim está longe de apresentar o seu real significado. Algumas palavras e sentimentos nasceram simplesmente alheios a amarras. Acredito que torcer por um time é de certo modo participar de uma grande e problemática estrutura familiar. Quem pode me dizer o contrário?

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