Dirigentes da Confederação Brasileira Futebol (CBF) teriam usado empresas e contas em paraísos fiscais para distribuir propinas de contratos comerciais. É o que apontam uma série de documentos, contratos e e-mails obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo. Os papéis revelam como, supostamente, empresas no exterior eram propostas como forma de fechar acordos e, ao mesmo tempo, garantir um canal de pagamento para propinas. Uma delas é a ISE, empresa de fachada criada por investidores árabes da gigante DAG nas ilhas Cayman e que conta apenas como uma caixa postal. Contratos para a realização dos amistosos do Brasil até 2022 foram fechados com a empresa e a CBF, em nota, afirmou que não tinha o poder de definir onde a parceira deve ter sua sede. Segundo um informe da consultoria KPMG, a ISE ainda teria sido responsável por pagamentos de propinas a Mohamed Bin Hammam, o ex-vice-presidente da Fifa e que tentou derrubar Blatter do poder na entidade.
Foto: Andre Penner/AP
Um dos contratos obtido pelo Estado mostra a forma pela qual parte da renda dos amistosos eram supostamente desviadas. A ISE fechou um acordo para negociar 24 amistosos com a empresa Uptrend Development LLC, com sede em Nova Jersey, nos EUA. Em nome da empresa nos Estados Unidos, de propriedade de Sandro Rosell Feliu, ex-presidente do Barcelona, ex-representante da Nike no Brasil e indiciado por crimes fiscais na Espanha, eram repassados para a ISE como lucros da partida cerca de US$ 1,6 milhão. Desse total, US$ 1,1 milhão seguia para a CBF como pagamento pelo cachê. Mas o restante não era contabilizado para a entidade. Os papéis mostram que US$ 450 mil seriam encaminhados para contas nos EUA, em uma empresa de propriedade de Rosell, aliado de Ricardo Teixeira em dezenas de projetos comerciais. No total, o contrato aponta que, por 24 jogos, o valor previsto para o pagamento seria de 8,3 milhões de euros (US$ 10,9 milhões) para a empresa nos EUA. Dividido por 24 jogos, esse valor seria de US$ 450 mil. A Nike e Teixeira também estão no foco do Departamento de Justiça dos EUA, que apontam para um pagamento em uma conta na Suíça de US$ 40 milhões. No indiciamento dos dirigentes, documento insinua que um cartola do alto comando da CBF e membro do Comitê Executivo da Fifa estaria envolvido em uma negociação com uma empresa de roupas esportivas dos EUA.
Foto: Divulgação
Em nota a Nike, a empresa afirma que está ajudando as autoridades. "Como todos os nossos fãs ao redor do mundo, nós somos apaixonados pelo jogo e estamos preocupados com essas acusações muito sérias. A Nike acredita fortemente em ética e fair play tanto nos negócios como no esporte, e repudia fortemente toda e qualquer forma de manipulação ou propina. Nós já estamos cooperando, e seguiremos cooperando, com as autoridades." Gravações ainda mostram que Ricardo Teixeira manteve contas secretas em Mônaco, avaliadas em R$ 100 milhões. A informação foi revelada pelo jornal eletrônico francês Mediapart, como parte de uma investigação conduzida sobre o banco Pache, uma filial do grupo Credit Mutuel. O caso estaria sendo investigado pelas autoridades monegascas por lavagem de dinheiro, num processo conduzido pelo juiz Pierre Kuentz. Em gravações realizadas pela Justiça, o nome de Teixeira é citado pelo diretor do banco, Jürg Schmid. "Nós, no banco Pasche, devemos provavelmente aceitar clientes que outros bancos certamente não aceitariam. Eu tenho um, o grande brasileiro", afirma, se referindo a Teixeira. "Eu sei muito bem que nenhum outro banco de Mônaco queria abrir uma conta dele", disse. "Nos fizemos tudo, já que temos a declaração de imposto e a declaração dos tribunais que dizem que ele não foi condenado", declarou. "Evidentemente, ele é conhecido, mundialmente conhecido", afirmou. O banqueiro chegou a dar explicações sobre a origem do dinheiro. "Sabemos que ele recebeu dinheiro em troca de favores, mas não são políticos", disse. "Decidimos juntos que nós o receberíamos porque ele nos traz 30 milhões de euros e isso não é pouco", finaliza Schmid nas gravações. BN
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