"A Elissandra já ganhou a sua casa. Uma casa forte e fresquinha", diz a exultante narradora do anúncio da Norte Energia, consórcio vencedor do leilão para construir a polêmica hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, Pará, ao custo de R$ 28,8 bilhões.
As imagens mostram Elissandra Oliveira caminhando sorridente pelos cômodos da nova residência e se balançando em uma rede. "Em breve, a Norte Energia vai fazer sua mudança. Uma mudança de vida", continua a narradora do comercial .
O anúncio gravado em novembro de 2013 foi ao ar em janeiro. Apenas depois de um ano e muita persistência, Elissandra foi transferida para uma casa no bairro São Joaquim, um dos reassentamentos que estão sendo erguidos pelo consórcio na cidade de Altamira para receber a população da área que ficará permanentemente alagada pela barragem de Belo Monte.
Altamira é onde vive a grande maioria dos atingidos. O alagamento definitivo - que deve atingir ao menos 25 mil pessoas na área urbana da cidade, segundo as estimativas mais conservadoras - está previsto para ocorrer com um ano de atraso, no segundo semestre de 2015.
Quando gravou o comercial, Elissandra ainda morava em uma palafita na orla do rio Xingu, abaixo do calçadão onde ficam os restaurantes mais caros de Altamira. Mesmo depois do anúncio ir ao ar, o consórcio tentou convencê-la a aceitar uma indenização de R$ 10 mil pela perda de sua casa.
"Eu não aceitei, não assinei os papéis. Porque quando eu fiz a entrevista (para o anúncio), eu queria a casa, não R$ 10 mil. Fui enganada", disse à BBC.
O Plano Básico Ambiental de Belo Monte determina que todos os atingidos têm direito a optar entre uma casa nova num dos reassentamentos ou uma indenização que permita adquirir outra moradia na cidade.
Muitos resistem a receber indenização porque os valores oferecidos têm sido considerados insuficientes para a mudança de endereço. A construção de Belo Monte, iniciada em 2011, fez a população de Altamira pular de 100 mil para 140 mil e inflacionou os preços dos imóveis.
O caso de Elissandra foi denunciado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no dia 12 de novembro, numa audiência pública organizada pelo Ministério Público Federal para discutir as queixas dos moradores sobre o processo de reassentamento.
Um mês depois, ela, seu marido e os dois filhos foram reassentados em uma casa de concreto com três quartos, dois banheiros, sala e cozinha americana. O modelo padrão adotado pela Norte Energia contraria a proposta inicial de três opções de tamanho, todos em alvenaria.
A mudança foi adotada sem ouvir a população, segundo o Ministério Público Federal, que por isso entrou com uma ação contra o consórcio questionando a qualidade das casas. Uma decisão liminar autorizou a continuidade da construção dos reassentamentos enquanto o caso é julgado.
Elissandra diz estar satisfeita agora. "A casa é boa demais", comemorou. "Eu lutei muito. Estou muito feliz". Fonte: BBC
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