Testes feitos em ratos mostraram os benefícios do sangue jovem em corpos idosos. Os cientistas acreditam que o mesmo pode acontecer em humanos (Foto: Robin Jones/Evening Standard/Getty Images)
Sangue jovem pode ser, literalmente, renovador. Estudos publicados em três periódicos científicos diferentes, neste domingo (4), relataram as propriedades rejuvenescedoras que substâncias encontradas em sangue novo possuem, e como elas podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos mais velhos.
Os experimentos foram realizados em ratos. Nos três casos, infusões de sangue jovem reverteram prejuízos causados pela idade sobre a memória, capacidade de aprendizado, força muscular e estamina – a resistência física a exercícios de longa duração. Os autores dos três estudos estão animados e acreditam que terapias semelhantes podem funcionar em humanos também. Espera-se que testes clínicos comecem nos próximos três ou cinco anos.
Nos três estudos, os procedimentos de pesquisa foram semelhantes – pares de ratinhos foram “costurados”, como se fossem gêmeos siameses. Para fazer isso, os cientistas feriram os animais nos flancos, e os uniram pelos machucados. A intenção era fazer com que os dois partilhassem do mesmo sangue. Esse método não é novo. Foi testado em pesquisas em 2010. Na época, os estudos constataram que o sangue novo rejuvenesceu as células tronco adultas presentes na medula ósseas dos tatos idosos.
No estudo atual, os ratos também tinham idades diferentes. Os resultados surpreenderam Sual Villeda, cientista da Universidade da Califórnia em São Francisco e principal autor de um dos estudos: o sangue do ratinho de três meses reverteu alguns dos danos causados pela idade no cérebro do rato de 18 meses. Para um ratinho, ter 18 meses equivale ao mesmo que ter 70 anos para um humano. Segundo o artigo que Villeda publicou na revista Natural Medicine, os ratos mais velhos tiveram benefícios em uma região do cérebro chama hipocambo. Ali, surgiram novas conexões neurais, significando que os neurônios eram novamente capazes de conversar um com outro de maneira eficiente.
O passo seguinte foi injetar nos ratos plasma sanguíneo – o sangue sem as células sanguíneas, os glóbulos vermelhos e os leucócitos. O resultado foi igualmente bom. Ratos idosos se mostraram capazes de executar tarefas com a mesma destreza que seus pares de seis meses de idade, e reagiram tão bem quanto os roedores de três meses ao serem expostos a um experimento em que tinham de lembrar as características de um ambiente ameaçador.
Ao jornal britânico The Guardian, Villeda disse que as evidências da eficácia desse método em diferentes tecidos do corpo é grande o suficiente para justificar o desejo de começar testes em humanos. Mas ele faz a ressalva de que humanos não são como ratos, e os efeitos podem ser diferentes: “Eu gostaria que a nossa pesquisa viesse com um aviso bem grande : ‘não tentem isso em casa’”.
Os dois outros trabalhos, desenvolvidos por pesquisadores da Universidade Harvard, defendem que é possível replicar os efeitos benéficos do plasma sanguíneo por meio da aplicação de uma única proteína, a GDF11. Em 2013, cientistas já haviam descoberto a capacidade dessa proteína de reverter danos no coração. Os estudos de agora tentavam compreender os efeitos dessa substância na regeneração muscular e na regeneração cerebral.
O grupo que estudava os efeitos sobre o cérebro injetou GDF11 em ratinhos de 15 meses diariamente por um mês. Nesse periodo, o volume de vasos sanguíneos nos cérebros dos ratos cresceu em 50%, e a quantidade de células tronco cerebrais cresceu 29%. Já o grupo que estudava os efeitos nos músculos constatou que o tamanho das fibras musculares dobrou durante esse período de um mês, até alcançar o mesmo tamanho que aquelas presentes em ratos de dois meses de idade.
Apesar dos resultados promissores, Amy Wagers, a pesquisadora que liderou os trabalhos defende que é preciso realizar mais testes até que o procedimento possa ser testado em humanos. À revista New Scientist, Wagers disse que as dúvidas que restam devem ser respondidas nos próximos três anos, quando testes com humanos começarão.
Com isso, não é intenção dos cientistas simplesmente prolongar a vida. O que ocorre é que, com a idade, surgem doenças como cânceres, diabetes e uma série de demências. Uma terapia capaz de retardar ou mesmo reverter esse processo de degenerescência poderia poupar milhões ao sistema de saúde, ao funcionar como uma medida de prevenção. À medida que a população mundial envelhece, a preocupação com esse tema aumenta.
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