O número de carros licenciados em fevereiro deste ano caiu em relação a janeiro. Divulgados nesta terça-feira (11/3), os números mais recentes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam o que já era esperado: uma desaceleração das vendas com o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Foram 281,5 mil veículos produzidos e 259,3 mil licenciados. A produção cresceu 18,7% frente o mês anterior, já as vendas foram 17% menores. Na comparação anual, no entanto, o avanço nas vendas foi de 10,3% em fevereiro deste ano. Se a comparação anual traz algum otimismo para as montadoras, para o mercado de seminovos a desaceleração na comparação mensal é motivo de euforia. Os revendedores já vem em ritmo acelerado e, com a volta do IPI, a tendência é melhorar. Números da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), apontam um invejável aumento de 18% no número de veículos vendidos em fevereiro – 640 mil unidades comercializadas, frente a 541 mil em igual mês do ano passado. O resultado é 80% superior ao número de licenciamento de carros novos. Não se trata de um ponto fora da curva. Em janeiro deste ano, os resultados já davam pontos positivos ao mercado de usados. Enquanto o emplacamento de novos veículos cresceu apenas 0,4%, nas revendas o avanço foi de 7,8%. Foram 689 mil seminovos negociados, enquanto apenas 312 mil foram emplacados. O resultado é um alívio para um setor que vinha sofrendo com as restrições do mercado de crédito. "O final de ano foi bom e este ano a tendência é melhorar, mas ainda não conseguimos compensar as perdas de 2009”, lamenta Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto. Até 2008, a política de crédito abundante e financiamento de valor total dos veículos facilitou muito o mercado automotivo. De lá para cá, o cenário mudou. “De cada dez fichas de aprovação de crédito que mandávamos, passava uma. Hoje conseguimos duas ou três de cada dez.” Luiz Augusto Verrone Federico, com 25 anos de mercado e proprietário da Vip Motors, em São Paulo, está esperançoso. Acredita que esse ano será de sucesso no mundo dos usados, especialmente por conta do retorno do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que subiu em janeiro e será cobrado integralmente a partir do segundo semestre. Mesmo assim, até hoje a restrição de crédito é o que impede o setor de deslanchar. Federico atribui às exigências de crédito à impossibilidade de voltar aos bons tempos em que vendia 40 carros por mês. “Em 2009, por exemplo, a gente vendia entre 8 e 10 carros mensalmente. Hoje já são 20”, comemora. No entanto, o empresário não espera voltar aos 40 carros mensais tão logo. “Se eu chegar a 30 em algum mês neste ano já é lucro.” Engana-se quem pensa que os revendedores vêem excessos nos critérios dos bancos. Nos tempos de alta inadimplência, Federico conta que chegou a ser contatado pelos bancos, que queriam uma mãozinha na cobrança dos clientes atrasados. "O consumidor tem de cumprir a parte dele também", afirma. Ilídio dos Santos, da Fenauto, reitera: "Hoje o financiamento é mais seguro." Federico, da Vip Motors, também conta que os bancos comerciais oferecem mais restrições na aprovação do crédito para aquisição de carros usados. E ele está certo. Leandro Mattera, consultor automotivo, lembra que os veículos que já têm um determinado tempo de uso geralmente são a garantia do próprio financiamento. “Acaba sendo uma garantia de pior qualidade para as instituições financeiras”, diz Mattera, que se intitula partidário da compra de usados. “O carro usado pode valer mais a pena que a maioria das pessoas imaginam.” E não é só o encarecimento dos veículos por conta do IPI que faz o usado ser mais vantajoso. Mattera aconselha boa parte dos seus clientes a comprar carros usados, principalmente porque os mais novos estão “cada vez mais caros” e não “contemplam vários itens de série” que costumam fazer toda a diferença para o motorista. “Os lançamentos estão custando muito mais caro e, em muitos casos, não oferecem os equipamentos que seriam esperados pelo preço cobrado”, explica. “Não é somente uma questão de preço.”
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