Não é só no futebol masculino que os gols vêm dando lugar no noticiário para o preconceito. Na última quarta-feira, 05, em jogo válido pela Copa do Brasil Feminina, o São Francisco do Conde foi eliminado pela Ferroviária, mas o que marcou mesmo para as jogadoras foram os gritos preconceituosos dos torcedores que acompanham a partida realizada em Araraquara.
O assunto, porém, veio a tona apenas nesta sexta-feira, quando o técnico do clube baiano, Mário Augusto, soltou um comunicado no site da Federação Bahiana de Futebol (FBF) relatando o que acontece. Segundo ele, as jogadoras foram humilhadas pelos torcedores, que as chamavam de "nordestinos", "pobres miseráveis", "porcos" e ainda falavam que "o Nordeste tinha que sair do mapa".
Os xingamentos começaram ainda no aquecimento e seguiram até o fim da partida. Durante os 90 minutos, um grupo de 40 torcedores ficaram atrás do banco de reservas humilhando as jogadoras e Mário Augusto ainda acabou sendo atingido no rosto por uma bateria de celular. O treinador também relatou que os policiais presentes no local - cerca de 8 - foram avisados pela arbitragem, mas disseram que não poderiam fazer nada em relação às agressões racistas e preconceituosas.
O presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, já avisou que a entidade vai defender com todas as forças o São Francisco do Conde nesse caso, tanto que notificou a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para que alguma decisão seja tomada.
Confira na íntegra o comunicado de Mário Augusto no site da Federação Bahiana de Futebol
"Bom dia,
É com muita tristeza que informamos a nossa derrota na partida de volta das 4ª de finais da Copa do Brasil e, com mais tristeza ainda, informamos que reconhecemos a qualidade da equipe da Ferroviária de Araraquara.
Mas não podemos aceitar é que, desde que entramos em campo para o aquecimento, a nossa equipe era agredida de maneira humilhante, pois nos chamavam de 'nordestinos', 'pobres miseráveis', 'porcos' e que 'o Nordeste tinha que sumir do mapa'. Até aí tudo bem... Pedi às atletas que não dessem atenção. Após o início da partida, um grupo de mais ou menos 40 torcedores ficou atrás do nosso banco de reserva, cerca de três metros de distância, ficou a partida toda nos agredido de forma humilhante, pois nos chamavam de parte suja do país e o pior diziam que: TODO NORDESTINO TINHA QUE SER EXTERMINADO DO BRASIL. Isso era dito desde do inicio da partida até o fim.
Como percebi que isso não era um xingamento normal dentro de um estádio de futebol, pedi à árbitra o policiamento (deu para perceber que era cerca de 07 ou 08, no máximo). A mesma me disse que a única coisa que podia fazer era pedir que 02 policias se colocassem próximo ao nosso banco de reserva e, se nos agredissem com algum objeto, eu chamasse a 4ª arbitra para informar. Mas referente às agressões de forma racista e preconceituosa, a mesma não poderia fazer nada.
Mesmo com os policias próximos, esses torcedores não pararam com seus xingamentos preconceituosos. Após o termino da partida, esses mesmos policias foram dar a tradicional proteção ao quadro de árbitros e com isso as agressões passaram a ser físicas, jogando objetos, tanto que, quando percebi que seríamos agredidos com objetos, pedi que nossas atletas e o restante da comissão saíssem mais rápido da proximidade da torcida assim que a árbitra apitasse o fim da partida. Mas nem deu tempo. Quando iniciamos a retirada, os objetos já foram arremessados em nossa direção e, infelizmente, uma bateria de celular pegou em meu rosto e fez um corte acima do nariz.
Automaticamente, me dirigi ao policiamento para mostrar a agressão. Só me pediram que nosso grupo se dirigisse ao vestuário o mais rápido possível, porque eles eram poucos e nada iriam poder fazer, então ficaram na entrada do túnel e não adiantou de nada, pois jogaram até sapato, laranja e garrafa de água.
Fico sem entender o motivo de tanto ódio desses torcedores, pois se o seu time já tinha ganho a partida por que tanto ódio?
Informo que o sr. Fabrício, responsável pelo Esporte na cidade, foi até o hotel onde estávamos hospedados e o mesmo foi pedir desculpas pelo comportamento agressivo e preconceituoso da torcida local.
Outro absurdo foi quando o placar estava 3x0 e o sistema de som do estádio já estava anunciando a classificação da equipe e pedindo aos torcedores que aplaudissem a equipe local antes do fim da partida. Talvez isso tenha sido um dos motivos das agressões.
Mais uma vez, em nome de todo grupo, queremos agradecer pelo grande apoio ao futebol feminino da Bahia por parte da FBF, especialmente ao Sr. Ednaldo Rodrigues.
GRATO,
Mário Augusto
Técnico e coordenador do futebol feminino de São Francisco do Conde"
Agência Futebol Interior
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