Por Humberto Pinho da Silva
Sempre que há futebol na televisão, a minha
rua anima-se. São: “hás”!, “hós!” e Hús!”, proclamados em coro, pelos meus
vizinhos; e não é raro, quando entra a bola na baliza, passarem carros
grasnando as mais disparas buzinas.
Quando tal acontece, recordo logo os três
famosos “Fs” de Salazar – Futebol, Fado e Fátima, – que nos meus tempos de
juventude, ouvia, com respeito e até veneração, a inflamados oposicionistas ou
do reviralho, como pomposamente eram apelidados.
Dizia-se, pelas cafetarias, à socapa, não
fosse a PIDE ouvir, que Salazar anestesiava o povo com: Futebol, Fado e com as
cerimónias realizadas em Fátima.
Como adolescente, que era, acreditava em tudo,
e pensava com os meus botões:” Que grande tratante!”
Indignava-me, também com as manifestações, ao
ver centenas de camionetas a despejarem pessoas, que vinham de longe, a troco
do passeio, cerveja e naco de pão.
De política, nada sabia, além da “Organização
Política da Nação” que aprendera no liceu.
Envelheci, e a idade diz-me que os três “Fs”
são, agora, praticados por aqueles que o denegriam.
Na antiga Roma, os Imperadores e a elite,
criaram o coliseu, para divertirem o povo e anestesia-lo. Nesse circo, clamava-se
a alta voz: “Mata-o”… “Mata-o”… e havia gritos, palmas e palavras cruéis;
morria-se na arena, e esquecia-se as agruras da vida nas bancadas.
Ditadores, democratas e elites dominantes,
ainda hoje usam os mesmos métodos, e os escrúpulos são os mesmos.
Futebol, Carnaval, Música alienante, e
“droga”, fazem o povo esquecer dificuldades e problemas que o atormenta.
Recentemente, ouvi asseverar, que o futebol
desenvolve a economia. Estudei Economia e leio periódicos sobre a matéria, e
nunca descobri que o desporto resolvesse problemas financeiros de um país.
Em Portugal, a crise começou com o Campeonato
da Europa; na Grécia, após os Jogos Olímpicos; e no Brasil, receio que a “crise”
chegue por causa do futebol.
Muitos brasileiros são de igual parecer; por
isso descem à rua e intelectuais usam a pena para alertarem o perigo.
É que o dinheiro esbanjado com o espetáculo,
faz falta para minorar necessidades prementes.
Infelizmente as “massas” carecem desses
incentivos para sentirem-se felizes e “embriagarem-se“; e o poder aproveita, a
fraqueza, para as manter alienadas.
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