Por
Humberto Pinho da Silva
Não recordo quem disse, que
para o ser humano sentir-se realizado, deve concretizar três desejos: um filho,
escrever um livro e plantar uma árvore.
São três modos, a seu alcance,
para se perpetuar.
O jeito mais sublime, é sem
dúvida, conceber a criança, carne de sua carne, a quem legue, nome e valores
que acredita.
Mas nem sempre o filho perpetua
a memória do gerador. Há quem despreze os pais, mormente se estes são de origem
modesta; e os que aproveitam o casamento para se libertarem de sobrenomes
“indesejados “.
O melhor meio de “permanecer”,
após a morte física, é, a meu ver, escrever o livro. Nele deixa-se: o
pensamento, reflexões e o estilo, que é um pouco da alma.
Infelizmente, o livro também
morre. Morre nas estantes das bibliotecas, vítima de enfermidades de papel, ou
esquecido como mono, manchado pela humidade, em escuros armazéns de livreiros.
Sei bem que pode haver
reedições, mas isso acontece a poucos, aos que ascenderam ao estrelato; a
maioria desaparece, comidos pelas traças e bichinhos indesejáveis.
Resta, finalmente, ao infeliz
mortal, a árvore, já que esta permanece dezenas e até centenas de anos; e todas
as primaveras se touca de graciosas flores e frutos, se for frutífera.
Mas a árvore não é eterna, e
raras vezes, quem a observa, se lembra de quem plantou e ajudou-a a crescer.
É humano o desejo de
perpetuar-se, mas a melhor forma de o fazer, é a prática do bem, a dedicação,
desinteressada, à causa humanitária.
Certo é que, também a prática
do bem, a entrega ao próximo, não irá, por certo, perpetuar, o mortal.
Decorrido, e não é necessário muitas gerações, não passará de pálida imagem em
papel fotográfico, e permanecerá para os descendentes, como antepassado, quase
desconhecido, do qual - mesmo para os que usufruam bens por ele deixado, - nem
sequer conhecem o nome.
Assim é, porque este não é o
nosso mundo. Somos meros peregrinos que caminhamos, diariamente, para a Vida,
ainda que alguns pensem o contrário.
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