Por Humberto Pinho
da Silva
Tenho,
para os lados da Boavista, bairro da cidade do Porto, uma grande amiga, cujo
nome é Cândida.
Andava
ela no habitual maneio da casa, quando a criada, muito aflita, se pôs numa
gritaria infernal - A canalização da cozinha rompera-se, e pela parede jorrava
forte jacto de água, que ensopava tudo e todos.
Sem
perda de tempo, dinâmica como é, busca rapidamente o telefone, e apressa-se a
ligar ao Sr. Jesus, canalizador que sempre lhe acode nessas emergências
arreliadoras.
Do
lado de lá da linha surgiu voz massa, pausada, delicada, que gentilmente
informa:
- O
Sr. Jesus?! Infelizmente não posso chamar, mas se me permite terei muito gosto
em Lhe dar recado…
D.
Cândida, contristadissima, pinta-lhe com palavras negras, a dramática situação:
-
Valha-me Deus! Se não me acode é uma grande tragédia! Tenho a cozinha
inundada!…numa lástima, e não sei o que fazer…
De
novo a voz, desta vez, menos risonha:
-
Mas… minha Senhora: não há aqui nenhum canalizador! Ligou para uma igreja! Houve
engano no número…Mas… temos o Sr. Jesus no sacrário, e posso apresentar-Lhe seu
pedido… - Concluiu o sujeito em tom jovial.
Ao
que minha querida amiga, repostou muito angustiada:
- Bem precisava do Seu auxílio!…Ando numa
constante preocupação, que não me dá descanso.
Do
outro lado da linha a voz aquietou-a.
-
Fique descansada, que vou-Lhe pedir para que lhe dê sossego…
Terminou
assim a insólita conversa em sorrisos, cortesias e desculpas de ambos os
interlocutores.
Mas
minha amiga é que não parou de cismar com o invulgar diálogo, e não era para
menos.
Deveu-se
o engano aos olhos cataretados e à avançada idade de minha dedicada amiga.
Mas
o episódio é curioso e engraçado, lá isso é, e merecedor de ser relatado Disso
não tenho duvida.
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