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domingo, 11 de março de 2012

Empresas investem na exploração de lixo eletrônico

Os metais nobres que sobram no celular velho que ficou na gaveta podem virar receita nas mãos de quem já se atentou para esse mercado em potencial. E também o plástico, os circuitos e placas. Enquanto a média de produção de lixo eletrônico por ano está em 3,5 quilos, uma cadeia produtiva para dar destino útil a esses resíduos começa a caminhar no Brasil. De olho na lei de resíduos sólidos, que responsabiliza as fabricantes pelo recolhimento do que pode ser reaproveitado, criou espaço para surgimento de pequenas e médias empresas que começam a explorar a parte que lhes cabe nesse mercado – à estimativa é que o potencial de receita do mercado global de recuperação de lixo eletrônico em 2020 seja de US$ 21 bilhões.

“O e-lixo é um bem valioso que não se degrada na natureza. Achar e aproveitar esse mercado é maneira de transformar essa questão de problema em solução a partir do reaproveitamento dos componentes”, defende o professor Jamil Moysés, coordenador do MBA em Logística da FGV/IBS. E ele vai além: “Não me espantaria se, no futuro, as empresas que fazem a coleta desses resíduos nem cobrarem pelo serviço, apenas pelo direito de usá-los como produto”. Esse futuro já chegou para uma empresa de Betim, que não cobra para fazer essa coleta na Região Metropolitana de Belo Horizonte.


A divulgação da e-Mile - Empresa Mineira de Lixo Eletrônico ressalta: “Recicle seu lixo eletrônico sem sair de casa, agendamos coleta gratuita”. A administradora Fernanda Marciliana explica que o negócio é centrado na coleta e separação dos resíduos. “Aproveitamos quase todas as partes: a carcaça de plástico, os metais como alumínio, cobre, o aço e encaminhamos para as indústrias que tratam esses resíduos”, conta. O material segue para intermediários que até exportam o conteúdo.

“É mercado muito incipiente, que no Brasil tem muito a crescer. Aqui, por exemplo, não temos nenhuma indústria capaz de transformar o plástico da carcaça dos monitores de TV e impressoras. É um plástico especial, com substância antichama que demanda processo de reciclagem mais específico. Vai virar plástico reaproveitado na Europa”, detalha Fernanda. O quilo do plástico e do ferro, da maneira como a e-Mile repassa, custa R$ 0,20. Depois de beneficiado, chega a R$ 2. Atualmente, a empresa processa 50 toneladas por mês, entre diversos tipos de e-lixo. A perspectiva é dobrar essa quantidade a partir de parcerias com prefeituras, que são responsabilizadas, pela lei de resíduos sólidos, pelo tratamento adequado desse material.

Os equipamentos que têm placas, como celulares e computadores, por exemplo, são entregues para outra empresa, que tira proveito do e-lixo para fazer receita. Em euros. “Fazemos a triagem, com a separação de cada tipo de placa e a moagem desse material. Dali vai para a exportação, e então é feita a purificação dos metais nobres”, explica Flávio Melo, da Lorene Exportação e Importação, em Minas. A empresa tem 10 filiais Brasil afora e outras seis fora do país. Trabalha com grandes fornecedores como Nokia, LG, Samsung, Panasonic. Os negócios da Lorene crescem à invejável taxa de 20% ao ano, segundo Melo, exportando em média 300 toneladas por ano de eletrônicos para reciclagem.

Ele cita o exemplo da fábrica da Multilaser, em Extrema, no Sul de Minas, que cobra R$ 60 para a retirada de cada tonelada de e-lixo e gera cinco toneladas por semana. “Um parceiro local compra o material da fabricante, destrincha, desmonta e eu compro dele”, diz, ressaltando que a prática já faz parte da logística da empresa. O portfólio de celulares da Multilaser cresce acompanhando a entrada da classe C no mercado de smartphones, ou webfones. São aparelhos mais simples, que permitem acesso à internet e navegação em mídias sociais, a preços competitivos.


Mapa da coleta

O e-lixo Maps, ferramenta mantida pelo Instituto Sérgio Motta, é mapa interativo dos postos de coleta de resíduos eletrônicos. “Quem tem um posto faz o cadastro, nós checamos e colocamos no ar”, conta Sílvia Antibas, coordenadora do projeto. Já são 4 mil postos cadastrados, espalhados por todo o país. Mais de 60% dos estabelecimentos são focados em computadores e celulares, mas a ferramenta divide a navegação em mais de 112 variedades de lixo eletrônico – de lâmpadas a secadores de cabelo e geladeiras. Informações no site www.e-lixo.org.

Obsolecência do século 21

Semana passada, a Apple apresentou o novo iPad, ícone de desejo contemporâneo, excelente exemplo de como o consumismo tecnológico deturpa o bom senso. As novidades técnicas são pífias, mas o marketing da companhia induz a troca. A empresa atualiza o sistema que roda nos brinquedinhos e as versões anteriores do hardware passam a não dar conta dos novos sistemas, nem oferecem suporte ao upgrade. O equipamento fica lento, velho. E o pessoal troca. O volume de lixo que isso vai gerar em pouco tempo será espantoso. É a obsolescência programada do século 21. Quem singrar primeiro esse mercado e estiver atento às oportunidades pode fazer com o e-lixo o que a Apple fez com os tablets: inventou e manda no mercado. Do Estado de Minas

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