Ana Ikeda - Do UOL, em São Paulo
Com uma mistura crescente entre a nossa vida offline – a das interações no mundo real – com a online, é de se esperar que uma gama cada vez maior de serviços que antes só eram prestados presencialmente também siga o mesmo rumo. Um deles é o de orientação psicológica ou o “psicólogo a um clique”, que pode auxiliar quem está passando por algum problema emocional e não tem tempo (ou é tímido) para uma consulta “ao vivo”. Acompanhe a seguir os prós e contras do serviço e como ele funciona.
Antes de tudo, alertam os especialistas, é preciso diferenciar a orientação psicológica (permitida via internet) da psicoterapia (que só pode ser feito via internet em caráter experimental e se atender uma série de regras).
Uma resolução de agosto de 2005 do Conselho Federal de Psicologia estabelece uma série de normas para o atendimento online: a cobrança de honorários, por exemplo, só é permitida no primeiro caso, em que o psicólogo ouve uma queixa pontual do paciente, dá apoio e orienta a pessoa sobre questões emocionais.
É comum que os psicólogos ofereçam, no máximo, dez sessões de orientação, e encaminhem o paciente para terapia presencial, atingido esse limite. Quem procura esse tipo de atendimento deve ficar atento para que o site do profissional apresente o regulamento da orientação via internet, além de apresentar o selo do Conselho Federal de Psicologia e o atendimento às suas regras.
No segundo caso, de acordo com o conselho federal, a chamada psicoterapia "online” não é uma prática reconhecida pela Psicologia e, portanto, não pode ter a cobrança de honorários. Ela só pode ser realizada caso faça parte de um projeto de pesquisa, conforme critérios dispostos na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Além disso, o protocolo de pesquisa deve ser aprovado por Comitê de Ética da área reconhecido pelo CNS.
Como funciona
A orientação psicológica pela internet, explica Katty Zúñiga, terapeuta do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP, atende principalmente pessoas que não têm acesso a uma consulta presencial, seja por distância, timidez, questões financeiras ou comodidade.
Desde 1997 o NPPI oferece, por e-mail e gratuitamente, esse atendimento “remoto”. Uma equipe composta por 13 psicólogos faz semanalmente cerca de 20 orientações por e-mail. No máximo, são realizadas entre oito e dez trocas de e-mails, com respostas a questões pontuais e o encaminhamento para o atendimento presencial.
Outro serviço, porém pago, é o do PsicoLink. Pelo site, criado há um ano, a pessoa faz um cadastro e adquire créditos para comprar as sessões de orientação online, que ocorre por uma ferramenta de bate-papo ou videochat – ambos dispensam a instalação de softwares no computador do usuário. Cada sessão dura, no máximo, 50 minutos e custa R$ 65. O número máximo de sessões é dez e são atendidas apenas pessoas maiores de 18 anos.
“Queremos aproximar o psicólogo da população, além de preparar o próprio profissional para a era digital, já que a internet é cada vez mais usada como uma ferramenta de comunicação”, diz Milene Rosenthal, sócia-fundadora e psicóloga do PsicoLink. Milene frisa ainda que o serviço não tem o objetivo de substituir a terapia, porque não tem esse nível de aprofundamento.
Quem procura a orientação
O caso do desenvolvedor Martin Schwans, 23, mostra que o serviço de orientação psicológica pela internet ainda não é muito conhecido.
“Fiz uma pesquisa na internet e, sem querer, achei o PsicoLink. Fiquei curioso para ver como funcionava e achei a proposta diferente”, relembra. Ele nunca havia feito uma consulta com psicólogos até então.
“À primeira vista, as pessoas podem achar estranho e um pouco frio por não ter contato com o psicólogo presencialmente. Mas ajuda se você está com algum problema no trabalho ou em casa, quer esclarecer essa angústia e desabafar”, exemplifica Schwans.
Para o jovem, a internet tem a vantagem de pôr a pessoa em contato aos poucos com o mundo da psicologia. “A gente acha que nunca precisa de psicólogo, que é besteira. Esse serviço é interessante para quem tem resistência em ir falar com um psicólogo”, diz.
No entanto, a ausência do “olho no olho” ainda é uma desvantagem, considera Schwans, mesmo quando a orientação é feita via webcam. “Falta um pouco de interação visual”, conclui.
Casos variados
A terapeuta do NPPI afirma que o núcleo recebe as queixas mais variadas de internautas. “Mas os assuntos mais frequentes são os relacionados com tecnologia, relacionamentos, uso compulsivo de computadores ou games, depressão e bullying”, detalha.
No PsicoLink, comenta Milene, os atendimentos também são variados. Um deles foi o de uma idosa que sofria de síndrome do pânico e não saia de casa há semanas: a sobrinha dela foi quem encontrou o site e a ajudou a realizar a sessão online. “Ela não conseguia tirar a tia de dentro de casa, nem sabia qual era o problema pela qual a paciente estava passando. Ajudamos a identificar que poderia se tratar de síndrome do pânico e a orientamos”, explica a psicóloga.
Milene afirma também que muitas vezes a pessoa simplesmente não tem com quem falar e desabafar sobre questões emocionais comuns. “Atendi uma mulher que havia terminado um noivado e estava sofrendo. Nessa hora, acolhemos esse sofrimento, tentamos mostra o lado positivo do término de um relacionamento. Para essas pessoas, só por ter alguém com quem falar já é um alívio.”
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