O sonho era voltar às águas tranquilas da Praia de Barra Grande, em Vera Cruz, um dos municípios na Ilha de Itaparica, onde construía uma casa mesmo morando a 7.866 quilômetros de distância. Esse era o plano do capoeirista André Conceição Azevedo, 45 anos, que vivia na França. Lá, ele ganhava a vida como trabalhador da construção civil. Aqui, de férias para ver os parentes, ele perdeu a vida com um tiro no peito durante um assalto na ilha.
O crime aconteceu no dia 11 deste mês, três dias antes de André retornar à cidade francesa de Bordeaux. “Isso é muito doloroso. Ele saiu de lá para morrer aqui. Ele era uma pessoa maravilhosa, cheia de sonhos. O que ele mais queria era voltar à Barra Grande, tanto que estava construindo uma casa. Foi para a Europa para trabalhar, constituir uma família e quando vem de férias para ver os parentes, acontece uma tragédia dessas”, declarou um primo de André na manhã dessa terça-feira (20).
A Polícia Civil disse que André, na companhia de uma mulher, foi a uma casa negociar com um homem a prestação de um serviço. Logo depois, ainda durante a conversa, dois homens entraram no local e renderam os três levando-os para o banheiro. “Ao entrar no cômodo, André reagiu à investida, batendo a porta, e foi baleado. A dupla de criminosos levou uma TV e os três celulares das vítimas. Os investigadores da 24ª Delegacia (Vera Cruz) apuram a autoria do crime”, diz nota da PC. Até o momento, ninguém foi preso.
Assalto
André era capoeirista, pedreiro e pescador na Bahia, mas em 2016 foi para Londres, na Inglaterra, e depois passou a viver em Bordeaux, onde trabalhava como pedreiro numa empresa que constrói casas. Tinha uma modesta casa e um carro do ano. No entanto, nas horas vagas, se juntava com outros brasileiros em rodas de capoeira para difundir a cultura baiana.
Segundo parentes de André, ele chegou à Bahia em dezembro do ano passado para passar as férias com a mãe, os irmãos e sobrinhos em Barra Grande. O capoeirista voltaria em meados de março para a França, mas por conta da pandemia, só encontrou voo para a Europa no dia 14 abril. Enquanto a viagem não chegava, André construía a casa dele em Barra Grande, onde pretendia viver com a mulher, a educadora francesa Fabienne Bluteau, 40, e o filho de três anos e meio.
No dia 11, André bebia com amigos num bar na Rua Caminho das Árvores, também conhecida como Rua do Lá no Bar, quando decidiu ir à casa de um mestre-de-obras para contratá-lo para continuar a obra da casa em Barra Grande, pois embarcaria para a França três dias depois. Uma amiga decidiu levá-lo à casa do mestre-de-obras.
“Eles foram para acertar o serviço e voltar para o bar. Foi tudo muito rápido. Uns 20 minutos depois que chegaram, os caras invadiram a casa”, contou o primo.
De acordo com ele, dois homens desceram de um carro e pularam o muro da casa e anunciaram o assalto. “Mandou todo mundo deitar no chão e começaram a revirar tudo. Depois pegaram os celulares e colocou todos eles no banheiro”, contou o primo. Ele disse ainda que, por conta própria, o capoeirista tentou fechar a porta, momento em que um dos bandidos não gostou da atitude e disparou. “O tiro atravessou a porta e atingiu o peito dele”, lamentou o primo. O corpo de André foi enterrado no cemitério de Barra Grande.
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