Dizer que o Rio acordou feliz na manhã de ontem é pouco; o Rio acordou eufórico. A prisão de Sérgio Cabral foi comemorada nas padarias, nos pontos de ônibus, em qualquer lugar onde houvesse pessoas juntas.
A internet, que vinha de uma temporada de baixo astral, explodiu em festa. Há tempos não se via tanta gente contente on-line: nem a prisão do abominável Cunha causou tanta satisfação explícita. Em menos de dez anos, Sérgio Cabral conseguiu passar de governador mais votado do estado, com ótimos índices de aprovação, a figura mais detestada pelos eleitores.
Acho que mais do que incompetência e corrupção, fatores comuns a tantos políticos brasileiros, contribuiu para a péssima imagem do ex-governador o seu estilo de vida ridículo, o seu amor pelos símbolos de uma riqueza de anedota, movida a viagens extravagantes, helicópteros, baldes de champanhe e joias milionárias.
Em vez do carioca bacana que a propaganda vendeu nos seus primeiros anos, ainda aproveitando o prestígio de gente boa do pai, Sérgio Cabral revelou-se uma espécie de sub-Trump tropical do dinheiro alheio, uma Maria Antonieta de Mangaratiba, insensível às necessidades e ao sofrimento do povo.
Pouca gente teve a sua desfaçatez e o seu desprezo pelo bom senso e pela opinião pública; pouca gente teve a ousadia de achar que os eleitores eram tão cegos e ignorantes. Deu no que deu. O que mais me espanta, nessa sua figura ao mesmo tempo trágica e de chanchada, é a falta de ambição.
Com a idade que tinha ao assumir o governo pela primeira vez, e com a simpatia que, bem ou mal, sabia fingir, Sérgio Cabral poderia ter feito uma longa carreira política, contribuindo para de fato melhorar o Rio de Janeiro e o Brasil, deixando um legado digno e importante.
Poderia até mesmo ter se candidatado à Presidência e eventualmente ter sido eleito; poderia ter deixado um bom nome, do qual os seus descendentes se orgulhariam. Em vez disso, preferiu meia dúzia de jantares em Paris, cercado de cafajestes e de novos ricos. Perdeu, por deslumbrado e canalha, o bonde da História.
Que idiota. *Cora Rónai, em O Globo