Não havia celulares para distrair, nem redes sociais para consumir seu tempo
POR JOÃO LEMES
Era início dos anos 80, e lá ia Joãozinho, com sua caixa de isopor pendurada no ombro, anunciando em alto e bom som: “Olha o picolééé! Tem de limão, morango e uva!”.
O sol castigava, mas o sorriso no rosto do garoto de 12 anos não diminuía. Cada moeda conquistada significava um caderno novo, um lápis, ou uma ajuda para sua mãe, Dona Maria, que criava três filhos sozinha.
Nas ruas do bairro, todos o conheciam. Os vizinhos faziam questão de comprar seus picolés, mesmo quando o dia não estava tão quente. “É para ajudar o menino”, diziam uns aos outros, orgulhosos de ver aquela criança trabalhadora. Ao seu lado, muitas vezes estava o Pedro, seu amigo engraxate, que também lutava por seus sonhos, um sapato de cada vez.
Não havia celulares para distrair, nem redes sociais para consumir seu tempo. A diversão acontecia nos intervalos das vendas, quando brincava de bola com os amigos ou trocava figurinhas do álbum que conseguia preencher aos poucos, com o dinheiro suado de seu trabalho. São coisas que a gurizada de hoje nem imagina o que era.
Era um tempo diferente, quando o trabalho digno, mesmo que simples, era motivo de orgulho. Joãzinho aprendeu cedo o valor do dinheiro e a importância da honestidade. Anos depois, já adulto, ele sempre contava aos filhos sobre sua época de vendedor de picolé, não com vergonha, mas com o peito cheio de orgulho por ter sido parte de uma geração que aprendeu a vencer na vida com trabalho e dignidade.
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