Por Ana Luiza Albuquerque | Folhapress
Foto: Arquivo / Agência Brasil
O pastor Silas Malafaia, aliado de Jair Bolsonaro (PL), diz que o ex-presidente deveria "dar uma prensa" em seu afilhado político, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na última semana, aliados de Bolsonaro intensificaram as críticas a Tarcísio, que tem sido alçado como principal herdeiro do bolsonarismo e possível candidato à Presidência em 2026.
Eles avaliam que o governador tem se aproximado do Judiciário e do centro para pavimentar seu caminho ao Planalto, escanteando o ex-presidente, que ainda acredita na reversão de sua inelegibilidade junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Incomoda, especialmente, o espaço que Tarcísio dá ao secretário Gilberto Kassab (PSD), cujo partido conta com três ministérios no governo Lula (PT).
"Para mim, Bolsonaro tinha que chamá-lo e dizer assim: 'Amigão, você tem que escolher o que você quer. Se você quer ser aliado do Kassab, então segue seu caminho'", afirma Malafaia à Folha de S.Paulo.
"Kassab é o chefão do PSD. O PSD votou a favor de incluir Bolsonaro na CPI do 8/1. Como que o Kassab, que é aliadíssimo do governo Lula, tem tanto poder no governo de Tarcísio? Não é uma coisa estranha?", questiona. "Eu aprendi um ditado: amigo de meu inimigo não é meu amigo."
Mais cedo, Malafaia disse ao portal Metrópoles "desconfiar" que Tarcísio esteja atuando nos bastidores para que Bolsonaro permaneça inelegível.
Malafaia afirma que quando Lula estava condenado e preso, o PT e a esquerda só sugeriram outra candidatura, do atual ministro Fernando Haddad (PT), quando já não havia saída.
Ele avalia que o governador, que tem dito publicamente que é candidato à reeleição, não é categórico o suficiente ao afastar a possibilidade de concorrer ao Planalto em 2026.
"Quando você viu o Tarcísio dizer que a inelegibilidade de Bolsonaro é um absurdo? Onde ele falou, em que lugar? Nenhum", afirma o pastor. "Uma coisa é dizer 'eu vou ser candidato à reeleição'. [Outra é dizer] 'eu jamais serei candidato a presidente porque a inelegibilidade de Bolsonaro é frágil e ele tem tudo para ser reestabelecido'. Eu não vi esse esforço na fala dele."
Aliados de Bolsonaro dizem que Tarcísio tem feito constantes gestos ao Judiciário, inclusive criando pontes com o ministro do STF Alexandre de Moraes, e se aproximado de setores mais moderados da política para se viabilizar como uma figura de direita mais palatável.
Nesse sentido, o governador herdaria os votos do bolsonarismo, aproveitando-se de Bolsonaro como cabo eleitoral, sem atuar pela reversão da inelegibilidade do ex-presidente e sem defender os valores ideológicos do grupo.
Como adiantou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, incomodou a participação de Tarcísio em um jantar organizado pelo apresentador da TV Globo Luciano Huck e o aceno ao governo Lula (PT) na última terça-feira (28) --o governador afirmou que a administração federal tem sido parceira na renegociação da dívida do estado com a União e elogiou Haddad.
"Eu digo que não sou amigo do João, só que eu tomo café com o João, vou passear na praia com o João... Somando esses fatos e movimentos, é para desconfiar", diz Malafaia.
Publicamente, o governador nega ter a pretensão de concorrer à Presidência em 2026 e essa afirmação é repetida por seu entorno. Pessoas próximas de Tarcísio afirmam que as críticas não partem de Bolsonaro e que os dois estiveram juntos nesta terça-feira (4) em Brasília e tiveram uma boa conversa.
Na semana passada, o vereador Carlos Bolsonaro (PL) escreveu nas redes sociais que é preciso desconfiar de qualquer movimento que exclua a possibilidade de Bolsonaro concorrer à futura disputa eleitoral enquanto usa a imagem do ex-presidente.
"Pois fica claro que o único interesse deste é alavancamento pessoal e não de um movimento realista, mas oportunista. Quem se eximir de negar a realidade está agindo de má fé, pois o movimento somente tem a intenção de visivelmente enfraquecer o Capitão", escreveu.
Malafaia diz que o recado foi para Tarcísio e que os três filhos mais velhos de Bolsonaro --Carlos, o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL)-- estão irritados com o governador. "A turma do entorno de Bolsonaro anda indignada com essas posições."
Eduardo afirmou nas redes que, enquanto houver a possibilidade de reverter a inelegibilidade do pai, ele será seu pré-candidato.
Depois dessas manifestações, o ex-presidente recebeu Tarcísio em evento de arrecadação de doações para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, em Campinas (SP), e fez afagos ao governador. Bolsonaro disse que ele é o "melhor governador que São Paulo já teve", é dedicado, competente, "gosta do que faz" e tem um "grande futuro político pela frente".
Malafaia diz que não conversou com Bolsonaro desde a última semana e nega que o ex-presidente esteja terceirizando as críticas a Tarcísio por meio dele. "Não sou moleque de recado de ninguém, tenho vôo próprio. Sou aliado, mas não sou alienado e não sou bolsominion", diz. "Ninguém me pede para fazer isso."
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