Por Lívia Inácio | Folhapress
Foto: Arquivo pessoal / Bruno Freitas / Agência Brasil
Um estudo feito na Suécia e publicado pelo periódico The Lancet no fim de maio deste ano sugere que pessoas com tatuagem podem ter mais chance de desenvolver linfoma (câncer no sangue que afeta células de defesa do corpo) do que os não tatuados.
Pesquisadores identificaram pacientes com essa condição por meio de cadastros populacionais no país e reuniram um segundo grupo sem a doença (controle), para estabelecer uma comparação entre os dois. Todos os 11.905 participantes, que tinham entre 20 e 60 anos, responderam um questionário com perguntas sobre estilo de vida e a presença de tatuagens.
"Depois de levar em conta fatores como tabagismo e idade, descobrimos que o risco de desenvolver linfoma era 21% maior entre aqueles que estavam tatuados", diz Christel Nielsen, pesquisadora da Universidade de Lund que liderou o estudo.
Ainda segundo a pesquisa, a cor do pigmento e o tamanho da área tatuada não interferiam nesse índice. "Uma pessoa toda tatuada e outra com uma borboletinha no ombro tinham a mesma chance de desenvolver a condição", exemplifica o hematologista Volney Assis Lara Vilela, do Hospital Sírio Libanês em Brasília.
Mas, apesar de ser bem desenhado e analisar uma amostra grande, o estudo não é suficiente para atestar que tatuagens aumentam o risco de desenvolver linfoma, diz Vilela. É preciso realizar pesquisas com mais países e investigar se há relação de causalidade entre os dois fatores.
Um estudo observacional prospectivo, em que o cientista acompanha a amostra por um período e o desfecho do fenômeno pesquisado, é o mais adequado daqui para frente, diz o cirurgião oncológico Leandro Carvalho Ribeiro, professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), em Curitiba.
Cientistas já sabem que parte da tinta usada na tatuagem se deposita no sistema linfático e pode levar a inflamações, uma vez que o organismo a identifica como algo estranho, mas a associação com o linfoma demanda aprofundamento.
O grupo de pesquisa sueco pretende estudar agora a ligação de tatuagens com outros tipos de câncer, algo muito bem-vindo já que sabe-se ainda muito pouco sobre essa relação, diz Ribeiro.
O câncer de pele é um dos mais estudados, mas não foi identificada nenhuma relação entre a doença e tatuagens, segundo a dermatologista Eveline Battaglin, do Hospital Universitário Evangélico do Paraná (HUEM). Só o que se sabe é que elas podem dificultar o diagnóstico precoce por cobrir pintas potencialmente preocupantes, diz.
O interesse pelo assunto vem sendo impulsionado pelo aumento da procura por tatuagens. Dados do Sebrae mostram ainda o mercado de tatuagens está aquecido: entre 2019 e 2022, o órgão identificou um crescimento de 53,3% dos pequenos negócios na área. "A ideia é que, as pesquisas científicas ajudem a desenvolver métodos e tintas cada vez mais seguras para essa demanda crescente", avalia o médico do Sírio Libanês.
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