‘Não estou pessimista, estou realista’, advertiu o ex-presidente do PT e ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ex-presidente do PT e ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Dirceu vê problemas no partido e no governo federal, apontou falta de mobilização e avaliou que poderá ocorrer um “tranco” da direita, caso não haja uma reação.
Conforme Guilherme Amado, no portal Metrópoles, Dirceu expressou tais preocupações durante um encontro da corrente Avante PT, ala mais à esquerda da legenda, ocorrido em São Paulo, na noite desta sexta-feira (24).
“Hoje o PT é o partido de maior apoio popular, de melhor imagem, mas o partido não é nem 10% do que devia ser. Nós temos um problema sério, no PT e na esquerda”, disse ele. “Nosso governo tem problemas de governabilidade, organização, de avaliação de cada ministério”, avaliou.
Durante seu discurso, ele também apontou a falta de mobilização da sigla para confrontar a política de juros do Banco Central e lutar pelas pautas ambientais. Além disso, ele criticou o adiamento da eleição da presidência nacional do partido de 2023 para 2025, classificou como “um fracasso” as tradicionais manifestações de Primeiro de Maio e ainda lembrou do bom desempenho da direita nas eleições dos conselhos tutelares.
“Não sei qual é o problema. Tem medo da militância? Do debate? Da discussão? Da mobilização da militância?”, questionou. “Onde se discute isso? Ou não é para discutir e fazer de conta que está tudo bem? Ou não se pode discutir mais? Às vezes fico com a sensação de que você começa a discutir um pouco e fica inconveniente, indesejável”, completou.
Para o ex-ministro, a falta de mobilização e dos debates, somados ao emparedamento de Lula com relação ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), podem abrir oportunidades para a direita.
“Eu sou da opinião de que nós precisamos nos debruçar sobre o problema do partido. Não vamos tapar o sol com a peneira. Nós não aguentamos o tranco da direita como nós estamos. E a direita vai nos dar um tranco. Há esse ambiente agora político, negociação com Arthur Lira, mas essa não é a realidade. Se nós formos derrotados em 2024, eles vão tomar mais um naco do governo”, avaliou.
Diante deste cenário, ele defendeu que o PT passe a adotar uma perspectiva de médio prazo, para 12 anos, já que vê pouca possibilidade de uma mudança de correlação de forças em Brasília nos quatro anos do mandato de Lula.
“Temos que mudar a correlação de forças e mudar nosso partido. A não ser que a gente queira governar que está bom como estamos governando. Sabemos que não está. Isso não quer dizer que nosso governo não produziu grandes avanços e foi uma vitória extraordinária derrotar o bolsonarismo”, disse ele. “Não estou pessimista, estou realista”, pontuou.
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