‘Ele estava sempre atrás do presidente com mensagens e áudios de conspiração’, relatou um ex-integrante da gestão de Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Isac Nóbrega/PR
Apesar da defesa do tenente-coronel Mauro Cid apontá-lo como mero cumpridor de ordens, ministros da gestão de Jair Bolsonaro (PL) afirmam que o militar costumava instigar o ex-presidente com ideias conspiratórias e relatam até pressão para não reconhecer a derrota de Donald Trump nas eleições americanas.
“O Cid era uma das nossas principais preocupações no governo”, disse um ex-ministro que se classifica como integrante do “núcleo civil” da gestão Bolsonaro, à coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo.
“Ele estava sempre atrás do presidente com mensagens e áudios de conspiração. A gente convencia de uma coisa, saía do gabinete e ele ficava lá dizendo o contrário. Muitas vezes, Bolsonaro nos prometeu fazer uma coisa e fez outra por causa do Cid”, contou a fonte, segundo a qual houve diversas tentativas fracassadas de afastar o ajudante de ordens.
Segundo a coluna, embora Mauro Cid costumasse se manter discreto e calado em reuniões do alto escalão do governo, ao menos em um episódio ele chegou a confrontar ministros, justamente a respeito das eleições dos Estados Unidos.
Após declarada a vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos, em 7 de novembro de 2020, diversos chefes de Estado parabenizaram o presidente eleito, mas Bolsonaro negou-se, mantendo apoio a Donald Trump, que questionava a legalidade do pleito e não aceitava o resultado alegando fraude.
Diante do contexto, ministros como Fábio Faria e Tarcísio de Freitas, além de Carlos França, então assessor que depois veio a ser ministro das Relações Exteriores, passaram semanas tentando convencer o presidente a fazer um cumprimento oficial ao novo presidente dos EUA, mesmo que o gesto fosse apenas protocolar. Jair Bolsonaro, no entanto, se recusava.
Conforme relatos de testemunhas à coluna, sempre que Mauro Cid percebia que o chamado “núcleo civil” tentava convencer Bolsonaro a reconhecer a derrota de Trump ele convocava o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para interceder.
Segundo as fontes palacianas, ao menor argumento pelo reconhecimento da vitória de Biden, Ernesto e Cid tinha respostas prontas. “Não é bem assim não”, rebatia o ex-ajudante de ordens, cujo comportamento gerou espanto e irritação de ministros, que o julgavam “insubordinado”.
“O senhor desculpe, mas as informações não são essas”, retrucava o tenente-coronel, argumentando que no estado em questão, onde era apontada vitória de Biden, a eleição havia sido fraudulenta e que em breve Trump provaria a irregularidade. Ainda segundo os ministros, chamou atenção o fato de Cid contar com apoio dos militares, a exemplo de Braga Netto, que ocupava a Casa Civil, no período.
De acordo com a coluna, em meio à pressão, Bolsonaro costumava pedir tempo para pensar e não dava resposta alguma, mesmo quando os civis apontavam que a demora de se posicionar poderia gerar mais atritos. “Ele buscava informações diferentes e entregava ao presidente. Parecia que todo dia acordava com essa função”, contou um ex-ministro, em referência ao ex-ajudante de ordens.
O ex-presidente relutou para aceitar a derrota de Trump e chegou a dizer publicamente que houve fraude na eleição americana. Só em 15 de dezembro, mais de 40 dias depois do pleito, Jair Bolsonaro saudou Biden como presidente eleito e desejou “melhores votos e esperança de que os EUA sigam sendo ‘a terra dos livres e o lar dos corajosos’”.
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