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A pandemia impactou no número de diagnósticos e tratamentos do câncer de próstata durante a pandemia, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). O alerta é feito no mês em que se desenvolve a campanha mundial Novembro Azul, que começou em 2003, na Austrália, com a intenção de chamar a atenção para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças que atingem a população masculina.
As cirurgias para retirada da próstata por câncer tiveram redução de 21,5% na comparação entre 2019 e 2020. Os dados inéditos do Ministério da Saúde, obtidos a pedido da SBU, constam do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). As coletas do antígeno prostático específico (PSA) e de biópsia da próstata que, junto com o exame de toque retal, diagnosticam a doença, registraram quedas de 27% e 21%, respectivamente, como mostram as informações do Sistema de Informações Ambulatoriais, do Sistema Único de Saúde (SUS).
Houve diminuição ainda no número de consultas urológicas no SUS (33,5%). As internações de pacientes com diagnóstico da doença caíram 15,7%. As consultas com um urologista também sofreram queda. Até julho, foram 1.812.982, enquanto em 2019 foram 4.232.293 e em 2020, 2.816.326.
Embora já tenham começado a ocorrer neste ano, as consultas ainda estão em baixa. “Até nós que trabalhamos em consultórios particulares começamos a perceber que pacientes voltaram a marcar consultas, mas realmente houve um período em que não foi possível trabalhar. Hoje, a gente já conseguiu recuperar quase 60% do movimento que havia antes da pandemia. As cirurgias estão voltando, mas em pacientes que já tinham indicações antes de todo esse processo”, afirmou o secretário-geral da SBU, Alfredo Canalini.
Ele contou que como os hospitais e centros de atendimentos tiveram que concentrar as atenções em pacientes atingidos pela pandemia, o medo de contaminação pela covid-19 afastou as pessoas da procura aos médicos. “Esses locais passaram a ser vistos como de maior risco de contaminação. As pessoas pararam de fazer as coisas. A gente percebeu isso não só nos novos diagnósticos, mas inclusive em alguns pacientes que estavam fazendo tratamento para câncer independente do tipo. Eles pararam e sumiram, resolveram não correr risco e ficaram em casa. Isso prejudicou muito”, disse Canalini em entrevista à Agência Brasil.
O especialista explica que não há possibilidade de atendimento médico de urologia por telemedicina, como passaram a ocorrer com outras especialidades por causa da pandemia. “Este tipo de instrumento não possibilita o exame físico do paciente, por exemplo, a primeira consulta não pode ser feita por telemedicina. Não é ideal, e o paciente corre risco”, afirmou.
Os estados do Acre (90%), de Mato Grosso (69%) e do Rio Grande do Norte (50%) verificaram queda significativa nos exames de biópsia da próstata entre 2019 e 2020. No Rio de Janeiro foram 39% a menos e em Minas Gerais 31%. Já São Paulo (6%) e o Distrito Federal (7%) tiveram impacto menor. No exame de PSA, a Paraíba registrou percentual elevado (50%), seguido de Pernambuco (37%), Distrito Federal (34%), Rio de Janeiro (30%) e São Paulo (29%).
“O homem tem que perder o medo de ir ao médico e se conscientizar de que tem que cuidar da saúde como as mulheres fazem, porque é graças a isso que a mulher tem uma expectativa de vida de 8 a 10 anos maior do que a da gente”, sugeriu, acrescentando que como já ocorre com as mulheres, as consultas rotineiras devem começar na adolescência.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) relata o atraso cirúrgico emergencial e eletivo durante a pandemia, no Brasil. Conforme o estudo, mais de 1 milhão de cirurgias foram canceladas ou adiadas. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) mostram ainda que os procedimentos cirúrgicos para tratamento do câncer de próstata também foram impactados. Com esses resultados a SBU reforça neste ano a importância de os homens retomarem os cuidados com a saúde e voltarem às consultas médicas. A chance de cura cresce com o diagnóstico precoce do câncer de próstata.
Com exceção do câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é o tumor mais frequente no homem. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), indica que em 2021 são esperados 65.840 novos casos, mas muitos podem nem ter sido diagnosticados. A SBU também obteve informações do SIM, que indicam aumento de 10% na mortalidade por câncer de próstata em cinco anos. Em 2015, eram 14.542, e subiram para 16.033 em 2019.
A preocupação com o atraso nas consultas médicas é que em 90% dos casos, em fases iniciais, o câncer de próstata pode ser curado. A glândula se localiza abaixo da bexiga. Dentro dela passa o canal da uretra, por onde a urina vai da bexiga para o meio externo. A vontade de urinar com frequência e a presença de sangue na urina ou no sêmen podem significar a presença do câncer numa fase mais avançada. Nem todo tipo da doença tem necessidade de cirurgia, quimioterapia e outros tratamentos, mas pode ser acompanhado por meio da vigilância ativa.
“Após a avaliação urológica, os pacientes portadores de doença de baixa agressividade, avaliados por meio de critérios histopatológicos, clínicos e dosagem do PSA, podem optar por essa modalidade de tratamento. Entretanto, necessitam ser monitorados para que em caso de progressão tumoral, o tratamento adequado seja instituído”, disse o coordenador do Departamento de Uro-oncologia da SBU, Rodolfo Borges, acrescentando que as principais vantagens da vigilância ativa são evitar as possíveis morbidades dos tratamentos intervencionistas.
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