Segundo especialista, crescimento registrado no final de 2020 foi interrompido por causa do ritmo lento da vacinação
Fonte: Metrópoles**Foto: Matt Magrath/Divulgação
Após ensaiar uma breve recuperação no último semestre de 2020, a economia criativa voltou a fechar vagas neste ano. Segundo o Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, divulgado nesta semana, o setor já perdeu 80,4 mil postos de trabalho somente em 2021. Desde o início da pandemia, a área encolheu 5% se comparado ao período pré-Covid-19, resultando no encerramento de 244 mil vagas.
A maior baixa ocorreu no segundo trimestre de 2020, logo depois do fechamento da economia para conter a disseminação do novo coronavírus, quando 8% das vagas, o equivalente a 577 mil postos de trabalho, foram perdidas. Após esse evento, houve uma recuperação no último trimestre do ano passado, porém, o setor, novamente, entrou em declínio. Os dados de 2021 mostram queda de 1%, quando se compara com outubro, novembro e dezembro de 2020, no número de empregos na economia criativa.
O segmento engloba o mercado criativo (artesanato, artes cênicas, artes visuais, cinema, música, fotografia, rádio, TV e museus e patrimônio); de apoio, cujas ocupações não são consideradas criativas (contadores, advogados etc.), que prestam serviços ao setor cultural; e incorporados, ou seja, trabalhadores criativos que atuam em outros setores da economia (publicidade, arquitetura, moda, design, produção editorial etc.). A maior queda ocorreu entre os trabalhadores especializados, cujos postos de trabalho foram reduzidos em 27%.
A retração apontada pelo Observatório ocorre após a economia criativa ter registrado alta nos indicadores nos dois últimos trimestres do ano passado. Na análise de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, o crescimento não foi mantido por causa do ritmo lento com que o país está vacinando a população contra o novo coronavírus. “A indústria criativa foi impedida de seguir em retomada, o que resultou na queda de empregos, causando um revés na recuperação verificada nos dois últimos trimestres do ano passado”, pontua.
No recorte regional, Rio Grande do Norte (-24%), Paraíba (-15%), Mato Grosso (-15%), Espírito Santo (15%) e Amazonas (-15%) aparecem como os estados mais atingidos pela crise; na outra ponta, Piauí (+49%) e Roraima (+24%) figuram entre os maiores aumentos do período. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais seguem representando cerca de 50% do total de postos do país.
Eventos tradicionais, como o Carnaval e as festas de São João, no Nordeste, não puderam ser realizados por causa do aumento do número de casos de Covid-19 no Brasil ao longo de 2021.
Para a porta-voz, esse crescimento passa pela compreensão de que a economia criativa é como “um ativo estratégico de desenvolvimento, em que os governos tratem o segmento como algo matricial às políticas públicas, que vão desde o Ministério do Desenvolvimento, passando pelo campo cultural, à educação, entre outros”, diz. “Diante disso, a cultura não somente alavanca a economia como também apoia a melhoria do ensino e, naturalmente, promove a identidade cultural do nosso país”, completa Rosa.
Shows só em 2022
Sentindo na pele – e no bolso – os efeitos que a pandemia de Covid-19 causou no setor cultural, o produtor João Felipe Maione concorda que não há possibilidade de retomada de eventos antes da vacinação em massa. “Primeiro pela falta de liberações do governo e, segundo, porque iniciativas como lives e drive-ins não se mostraram rentáveis para o setor”, explicou o produtor cultural no início do ano, em entrevista ao Metrópoles.
Segundo Maione, houve uma grande injustiça com o setor que é responsável por quase 5% do PIB brasileiro e gera mais de 2 milhões de empregos no país. “A gente não conseguiu ter nenhuma agenda positiva com o governo. Não conseguimos diálogo e, infelizmente, isso tem afetado milhões de pessoas, dos ambulantes até empresas prestadoras de serviços, que geram empregos diretos e indiretos”, salienta.
Mesmo com a promessa dos governantes de vacinar toda a população adulta neste ano, Maione não é otimista sobre a volta de festas em 2021. “O mundo mudou e acho que as pessoas vão demorar para querer frequentar grandes aglomerações. Shows como a gente conhecia, só em 2022”, conclui.
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