por Nuno Krause
Foto: Adolfo Júnior
Rodrigo Calaça. Se a Juazeirense hoje está classificada para as oitavas de final da Copa do Brasil, é graças a esse nome. O goleiro de 39 anos defendeu dois pênaltis contra o Cruzeiro "no instinto", como revelou ao Bahia Notícias, e colocou o nome do Cancão de Fogo em uma história improvável: atualmente na Série D do Brasileirão, o clube eliminou o maior campeão da Copa do Brasil em um mata-mata.
Não é de se admirar que a maior inspiração de Calaça seja aquele que se tornou o maior ícone de penalidades do Brasil: Cláudio André Mergen Taffarel. O arqueiro tetracampeão do mundo com o Brasil era visto na TV com entusiasmo pelo ídolo da Juazeirense e o irmão, Alexandre Calaça, 42.
"Nunca torcemos para um time, sempre torcemos para o goleiro do time. O Taffarel onde jogava a gente torcia. Acompanhávamos o Parma na televisão. Torcíamos para Taffarel, Zetti, Rogério Ceni, tínhamos admiração por esses goleiros. Sempre tivemos vontade de virar goleiro. Meu irmão não se tornou profissional, mas é amador e continua jogando no gol", revela Rodrigo.
Natural de Catalão, em Goiás, Calaça costumava, desde pequeno, jogar futebol na rua. O pai, o mecânico Heleno, e a mãe, a costureira Arminda, nunca deixaram faltar nada para os filhos. "A gente não tinha uma condição muito boa, mas não viva na miséria", conta. A rotina, quando tinha a oportunidade, costumava ser "sair de casa sete horas da manhã e voltar oito da noite, com a mãe gritando para tomar banho".
ENTRE GIGANTES
A estreia como profissional ocorreu em um dos principais clubes do estado, o Goiás, em 2003, justamente contra o Bahia, na Arena Fonte Nova. À época, o Esmeraldino brigava para não cair, naquele que foi o primeiro campeonato por pontos corridos da história. O Esquadrão venceu a partida por 2 a 1.
"Era um garoto estreando no meio de [um Brasileirão que tinha] Romário, Edilson Capetinha, Denílson, Fernandão e outros. Aquela geração de 2002, com Robinho, Diego, Elano, Ricardo Oliveira, Nenê, Nilmar, Nonato...", lembra Rodrigo, que atuou em 29 confrontos naquela temporada.
Ao fim do primeiro turno, o Goiás estava na lanterna da competição, cinco pontos atrás do penúltimo colocado. Nomes como o meia Danilo, que mais tarde foi campeão do mundo por São Paulo e Corinthians, e Josué, que chegou a atuar pela Seleção Brasileira, faziam parte daquele elenco.
No entanto, com o imparável Dimba, artilheiro da competição com 31 gols marcados, o clube, treinado por Cuca, reagiu e ficou 16 partidas sem perder. A equipe terminou o certame com a 10ª colocação, com 65 pontos conquistados em 46 jogos.
Calaça defendeu a camisa esmeraldina, normalmente como reserva, até 2011, quando se transferiu para o Sport. Passou um ano lá e conheceu aquele que se tornaria seu amigo pessoal, Magrão. Em parte, é ao ídolo rubro-negro que a torcida do Cancão de Fogo deve a campanha histórica do clube na Copa do Brasil. Foi ele que aconselhou o amigo a não parar de jogar futebol tão cedo.
"Fizemos uma amizade boa no Sport. Ele e André Dias (zagueiro com quem Calaça atuou no Goiás) sempre disseram para eu estender o máximo possível, ir o mais longe possível. Enquanto eu tivesse condição de treinar, jogar em alto nível, era pra eu fazer, porque depois poderia ficar com aquele gostinho de que poderia ter estendido mais. Então enquanto eu estiver conseguindo treinar com a mesma energia de um garoto de 20 anos, eu vou continuar", determina.
O atleta também teve passagens por Portuguesa, onde jogou com Dida, Itumbiara, Atibaia, Anapolina, Santa Helena e Gama, até chegar à Juazeirense. A meta, a partir de agora, é continuar colocando o nome do Cancão na história. Para isso, ele e os jogadores se inspiram no Santo André de 2004, campeão da Copa do Brasil em pleno Maracanã, contra o Flamengo, após bater o Rubro-Negro carioca por 2 a 0.
"Hoje nós somos a menor equipe entre os 16. Todos são de Série C, B e A. Apenas a Juazeirense de Série D que está ali. Olha que história bonita. A gente se inspira naquele grupo guerreiro que acompanhou o título do Santo André. Todo mundo que não era flamenguista estava torcendo para o Santo André. Quando venceu por 2 a 0, fora os flamenguistas, todos se alegraram", ri.
A classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil não garantiu apenas a quantia de R$ 2,7 milhões para a Juazeirense, mas também uma gama de simpatizantes. "Hoje a Bahia, o Nordeste todo fala da Juazeirense. Se fala mais da Juazeirense que do ABC, do Bahia, do CRB... a Juazeirense é a queridinha do Brasil. É muito bom saber que as pessoas vão olhar e falar 'vamos torcer para eles ali'. Saber que vão torcer para o mais fraco para ver se tira o maior. O Nordeste tem seus times, com torcedores, mas tenho certeza que o torcedor do Bahia, se o Bahia não for jogar, vai torcer para a Juazeirense. O do Vitória, do Fortaleza, do Ceará e assim sucessivamente. Vai torcer para o time do Nordeste. Isso nos dá bastante alegria", comemora Calaça.
A campanha da Juazeirense, para ele, é mais uma demonstração de que as equipes do Nordeste estão se fortalecendo. Um movimento que não deve parar.
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