Escassez de doses que já paralisa a vacinação em diversas cidades brasileiras não só era esperada como deveria nortear uma política de priorização de regiões mais afetadas pelo coronavírus
Fonte: O Globo**Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Uma série de equívocos cometidos pelo governo federal e em níveis estadual e municipal atravancou a imunização contra a Covid-19 no Brasil e, caso esses erros não sejam corrigidos, adiarão ainda mais o retorno à normalidade em um cenário em que há poucos imunizantes no país. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo GLOBO, que foram unânimes: a escassez de doses que já paralisa a vacinação em diversas cidades brasileiras não só era esperada como deveria nortear uma política de priorização das localidades mais afetadas pelo coronavírus.
Os problemas começaram na fase pré-campanha, quando a única aposta do governo era a vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca com a Universidade de Oxford, por meio de acordo com a Fiocruz. O Brasil demorou a assinar acordos para a aquisição de outras vacinas.
— Em fevereiro do ano passado, já sabíamos que só iríamos superar a Covid-19 com uma estratégia de vacinação em massa. A ciência deu a resposta, o governo se omitiu — avalia o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, que comandou a pasta no segundo governo Lula (2007-2011).
A epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), afirma que a aposta única foi arriscada:
— A AstraZeneca ainda não conseguiu entregar vacinas. Felizmente, temos o laboratório público Butantan, que fez um acordo (com a chinesa Sinovac) à revelia do próprio Ministério da Saúde. Do contrário, não teríamos doses disponíveis no Brasil.
O ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) avalia que o Brasil perdeu uma série de oportunidades para assegurar um contingente de doses suficiente para imunizar o grupo prioritário antes do começo do inverno e toda a população apta a ser vacinada até agosto deste ano.
— Todas as empresas internacionais queriam trazer vacina para o Brasil, que tem uma tradição com seu Plano Nacional de Imunização. Incorporar uma vacina ao SUS é um cartão de visitas importante para qualquer empresa e para o sistema da OMS — diz Padilha, que faz parte da Comissão Externa de Covid-19 da Câmara. — O governo federal foi o tempo todo omisso, negou-se a efetuar contratações. No acordo com a Covax, o Brasil tinha direito a chegar a até 50% da cobertura populacional e optou pela cota mínima, de 10%.
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