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terça-feira, 14 de abril de 2020

Se ignorância matasse como coronavírus, seleção natural faria muitas vítimas no Brasil

por Fernando Duarte
Foto: Reprodução/ Turma da Mônica
Independente de ser real ou não, o vídeo em que pessoas imitam os “dançarinos de funeral” de Gana, em plena Avenida Paulista, deveria assustar. O momento, que pode ser visto dos mais diversos ângulos, é de um desrespeito tão grande às vítimas do novo coronavírus que, ao ver as imagens pela primeira vez, consegui reunir simultaneamente sentimentos como nojo, revolta, tristeza e indignação. O tom de zombaria é gigante e sem qualquer pudor. É de perder a fé na humanidade, se é que ela ainda existe.

Quem aparece no vídeo está além da fase da negação de que vivemos numa crise de saúde mundial. É como se fosse uma realidade paralela, em que a crescente de casos e óbitos confirmados é apenas uma invenção da mídia e de prefeitos e governadores que agem contra o Executivo federal. Em algum momento essa conta vai chegar e custará caro, porém poucos parecem dispostos a pagá-la. Apenas quem ainda mantém certo nível de sobriedade.

Talvez manter-nos sóbrio seja o grande desafio em meio a essa quarentena. E não estou falando dos intermináveis shows sertanejos na sala de casa pela internet, quando é difícil não tomar uma boa cerveja gelada. Não chega sequer aos níveis de realismo fantástico da literatura. É pior, muito pior do que em qualquer pesadelo já vivido. Porém é algo real, que dói quando a gente belisca o próprio braço.

Como se não bastasse a tragédia iminente, quando muitos fazem pouco caso do esperado colapso do sistema de saúde, assistimos estarrecidos a disputas narrativas sobre quem está certo ou errado no enfrentamento da crise.
Como diria a ex-presidente Dilma Rousseff, “não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder”. Vai todo mundo perder. E muito. Mais do que qualquer um gostaria.

Além do vídeo tosco da Avenida Paulista, o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, também se apropriou do meme do cortejo fúnebre ganês substituindo um dos carregadores de caixão pelo rosto do presidente Jair Bolsonaro. Mais explícito do que transformar o presidente em um dos cavaleiros do apocalipse, só se o colocasse como a representação da morte em si. Algo que não deve demorar a acontecer, diante das surpresas negativas do submundo da internet, alimentado pelo gabinete do ódio.

Por isso, tenho redirecionado minhas forças para lidar com esse misto de sensações tão diversas e repugnantes. A partir de agora, tentarei fazer uma oração para que essas almas encontrem um caminho de luz. E olha que nunca fui lá muito religioso. Porém até os ateus passam a crer quando Dona Morte aparece à espreita. É como diz o ídolo eterno Moraes Moreira, que infelizmente nos deixou e que não terá as homenagens que merecia por causa desta quarentena: Acabou chorare.

Este texto integra o comentário desta terça-feira (14) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

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