por Yan Boechat e Fabiano Maisonnave | Folhapress
Fortes confrontos ocorreram na tarde deste sábado (23) nas fronteiras venezuelanas com o Brasil e a Colômbia, quando caminhões e manifestantes tentaram romper os bloqueios militares para fazer entrar a ajuda humanitária enviada pelos EUA.
Três pessoas morreram na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén por disparos de armas de fogo, segundo funcionários de saúde venezuelanos. A cidade fica próxima à fronteira com o Brasil.
Treze feridos foram transferidos para hospitais no Brasil, quatro deles com ferimentos a bala. Há feridos ainda em atendimento no hospital de Santa Elena.
Em Pacaraima (RR), segundo moradores, forças de segurança impediram manifestantes de se aproximarem da fronteira com bombas de gás lacrimogêneo.
No final do dia, opositores que se concentravam do lado brasileiro entraram em confronto com militares venezuelanos. A confusão começou depois que manifestantes colocaram fogo em um prédio perto da linha fronteiriça que estava sendo usado como base pelas forças do ditador Nicolás Maduro.
Os militares reagiram jogando gás lacrimogêneo, enquanto os manifestantes lançaram coquetel molotov. Ao menos um manifestante teve de ser socorrido, supostamente por inalar gás.
Dois caminhões que levavam mantimentos da Colômbia para a Venezuela foram queimados na ponte Santander, que liga Cúcuta, na Colômbia, à Ureña, segundo o departamento de migração da Colômbia. Nuvens de fumaça negra subiram e se espalharam pelo ar.
Os caminhões estavam em uma caravana de quatro veículos que tentaram seguir viagem depois que os manifestantes romperam uma barreira de obstáculos erguida pela Guarda Nacional Venezuelana. Uma multidão tentou retirar as caixas com os suprimentos dos caminhões enquanto o fogo destruía os carregamentos.
"O regime usurpador se vale dos atos mais vis e tenta queimar um caminhão com ajuda humanitária que se encontra em Ureña. Nossos valentes voluntários estão fazendo uma corrente para proteger a comida e os remédios", escreveu em uma rede social o líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por cerca de 50 países.
"O regime usurpador viola o Protocolo de Genebra, no qual se diz claramente que destruir ajuda humanitária é um crime de lesa-humanidade", afirmou Guaidó.
Antes, militares e policiais lançaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, deixando ao menos seis feridos, nas pontes Simón Bolívar e Santander, que ligam a cidade colombiana de Cúcuta a San Antonio e Ureña, na Venezuela.
Na linha de frente, os manifestantes jogavam pedras para tentar forçar o recuo dos militares.
A fronteira entre os dois países foi fechada na noite de sexta por ordem do ditador Nicolás Maduro.
Os feridos são manifestantes que faziam parte de uma "corrente humanitária" para fazer passar a assistência.
"Eles começaram a disparar à queima-roupa como se fôssemos criminosos", afirmou o lojista Vladimir Gomez, 27, à agência de notícias Reuters, com uma camiseta branca manchada de sangue.
"Sou dona de casa, estou aqui lutando pela minha família, por meus filhos, por meus pais, resistindo ao gás lacrimogêneo dos militares", afirmou à Reuters Sobeida Monsalve, 42.
Momentos antes, Guaidó subiu em um dos caminhões em sinal de partida. "A ajuda humanitária está definitivamente a caminho da Venezuela, de maneira pacífica, para salvar vidas neste momento", disse o líder opositor.
Não está claro se ele tentou cruzar a fronteira com o comboio.
As duas camionetes enviadas pelo Brasil à Venezuela estavam até o início da tarde no ponto intermediário entre as duas alfândegas, em Pacaraima (Roraima).
O primeiro veículo chegou no fim da manhã ao ponto onde estão as bandeiras dos dois países e parou ao lado do pavilhão da Venezuela. O segundo chegou no início da tarde e estacionou ao lado.
Os dois caminhões estão parados com a parte da carga voltada para os militares venezuelanos, para que estes observem que transportam apenas ajuda humanitária, explicou um dos coordenadores da operação.
Está previsto que os motoristas sigam em marcha a ré e que os motoristas e venezuelanos presentes no Brasil tentem negociar a entrada na Venezuela.
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