por Breno Pires, Isadora Peron e Luiz Vassallo | Estadão Conteúdo
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ligou, na denúncia oferecida contra Aécio Neves (PSDB-MG), a troca de Osmar Serraglio por Torquato Jardim no Ministério da Justiça a pressões que o senador tucano teria feito para barrar a Operação Lava Jato. O senador afastado é alvo de denúncia por corrupção passiva pelo suposto recebimento de R$ 2 milhões em propina da JBS e por obstrução de Justiça por tentar impedir os avanços da mais pesada ofensiva já realizada no País contra a corrupção. Janot também pediu a abertura de um novo inquérito para investigar crime de lavagem de dinheiro. Na denúncia contra Aécio, o procurador cita a mudança na pasta da Justiça, alvo de diálogos de Aécio e outros políticos que tinham interesse na saída de Serraglio, apontado como "fraco". "Após a deflagração da "Operação Patmos" em 18 de maior, e a revelação do envolvimento do próprio presidente da República Michel Temer em supostos atos criminosos, a pressão do senador Aécio Neves e outros investigados intensificou-se, e Osmar Serraglio foi efetivamente substituído no Ministério da Justiça por Torquato Jardim, conforme anúncio feito na data de 28 de maio de 2017, um domingo, com nomeação efetiva no decreto presidencial publicado no Diário Oficial da União de 31 de maio de 2017, mesmo documento em que consta a exoneração de Serraglio", afirma Janot. De acordo com o procurador, diálogos gravados pelo empresário Joesley Batista, acionista da JBS e delator que deu origem à Patmos, já demonstravam o descontentamento de Aécio com a atitude "omissiva" do então ministro Serraglio para "mexer na PF", "deixando de realizar trocas que fossem alinhadas aos interesses dos investigados". "Essa reclamação já havia chegado ao presidente Michel Temer, provavelmente no dia 23 de março de 2017, numa reunião onde estavam Trabuco Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, uma pessoa de nome Pedro, os quais, segundo Aécio, estavam todos pressionando combinado com a gente", afirma Janot. O procurador-geral da República ainda menciona, para cravar a suposta influência de Aécio sobre a troca no ministério, em prol de se esquivar da Lava Jato, uma gravação com o senador José Serra. Nesse diálogo, Serra pediu a Aécio - ora afastado do Congresso por decisão de Fachin - que intercedesse junto a Temer em uma possível troca no Ministério da Justiça. Serra afirma estar "preocupado" e chama atenção para a necessidade de um ministro da Justiça "forte". O nome sugerido por Serra não era o de Torquato. Ele queria o Jungmann, referência ao atual ministro da Defesa Raul Jungmann. "Não precisa ser da área, porque vai ficar da área… vai ficar aquele problema todo. Alguém como o Jungmann daria, entende? Bem assessorado, tal. O fato é que tem que por alguém com força. Não para fazer nada arbitrário, mas para que as coisas tenham um caminho, né? de desenvolvimento, tudo", afirmou Serra. O tucano paulista ainda avalia que Serraglio "foi um bom deputado", "pode ir para outro Ministério", mas que não teve "condições iniciais". "Essa insatisfação com uma certa tibieza do então ministro Osmar Serraglio é reforçada numa ligação telefônica entre Aécio e o senador José Serra", afirma Janot, na denúncia criminal contra o tucano de Minas. BN
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